terça-feira, 3 de março de 2009

toupeira abrasada

Comeu do chão as sombras
possíveis e enterrou-se
nele a seguir. Para que não
restassem dúvidas da sua
passagem,
deixou a sua sombra a fazer
de lápide.

Da sombra à terra revolta, um cordão
metálico até ao fôlego que ficou
retido na garganta.

Na sombra,

as feições do rosto: nariz adulado
pelo sexo oposto, lábios gretados e
rugas que lhe faziam a testa
pautada.

A revelação lenta de que tinha deixado
uma convulsão de homens mais
puros ao comer o seu passado.

Vive agora subterrâneo. Astro. Pleno em cores
inventadas para ilustrar o seu enxame de estados.

No dia que hoje for, é ouvido a talhar o chão e a incorporar
pupilas de animais com ciência no comportamento
e cicatrizes no olhar.

Daqui a uma semana
recomeçará a lamber as sombras e a mergulhar
lentamente
na cicatriz
da sua própria poça de negrume
definida no côncavo
chão do sono
só por ele conhecido.
******

pedro s. martins

11 comentários:

  1. nossa, que incrívelma de primeira grandeza. naturalismo sem ismo. há até laocoonte, ugolino. há o meu nordeste brasileiro. nos-sos olhares.

    abraço pra vc e estes que pinta :)

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  2. Pedro s.martins

    Que a sombra não seja mais que o movimento do teu corpo quando na destreza olhas o céu de nuvens, brilhante de estrelas ao meio dia da vida bem vivida:)

    abraço

    Pj

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  3. "A revelação lenta de que tinha deixado
    uma convulsão de homens mais
    puros ao comer o seu passado."
    dizem que quando morremos ,21 gramos do nosso corpo desaparece. creio que seja o passado se desfazendo em nada ,se livrando do medo ;o peso ,de não saber do futuro que acabou...podendo agora então descansar.

    Belo poema e até a próxima!

    ps: valeu pela visita.
    saludos, Anita.

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  4. Viagem ao fundo de em corpo.


    Catarse e recolhimento.

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  5. Um poema visceral do corpo à terra, da terra à sombra, da sombra a si mesmo, de si para o fundo das trevas. Forte, belo. Gostei.

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  6. Se há sombra... é porque há existência e o sol brilha!
    Muito bom.

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  7. Com sombras e cicatrizes no olhar: assim se faz uma viagem interior da alma. Poema muito forte e belo.
    Um abraço.

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  8. que forte, pedro! me senti sagaz, viajando pelos campos da matéria, corpo, alma, luz e sua densidade.

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  9. Muito intenso. As sombras sao assustadoras, mas ao mesmo tempo mágicas. :)

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  10. Esconder em sim mesmo, ou qualquer outra coisa, não é bom, pois qualquer desafio é uma oportunidade de crescer...

    Fique com Deus, menino Pedro.
    Um abraço.

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