segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Feira do Livro de Poesia do Plateau


A 1ª Feira do Livro de Poesia do Plateau vai realizar-se já no próximo dia 5 de Novembro (sábado),
das 10H00 às 18H00, no Pátio do Café Palkus do Palácio da Cultura Ildo Lobo.

Mas não teremos só Livros de Poesia.
Haverá também Revistas Literárias, Livros Infantis, Banda Desenhada, Fanzines, entre outros.

Portanto, a partir do próximo dia 5 de Novembro, haverá mais um motivo
para um passeio de sábado ao Plateau – para um encontro com os livros!

Com o nosso agradecimento ao Café Palkus
que prontamente disponibilizou o espaço para a realização desta Feira,
lá estaremos, esperando por todos os que gostam de Poesia (e não só).

Inês Ramos e Sandra Moniz

terça-feira, 25 de outubro de 2011

(22)

Imagino M, já no final da vida, encantando-se com uma
pequena bússola, num bazar de East Sussex. Vira-
-a e descortina a gravação que o verdete cobrira: R.
SCOTT. A ironia final das muito suas muitas ironias.

Miguel Martins, "O Taberneiro", Poesia Incompleta, 2010.

SUB ROSA

- para o Herberto Helder -

Não somos os últimos, pois se
há coisa que o mundo sempre fez bem
foi acabar. De novo e sempre: acabar.

Mas já não trabalhamos com o ouro
e temos um certo pudor tardio
em falar de deus, do amor ou até do corpo.

As metáforas arrefecem, talvez contrariadas.
São casas devolutas, mães risonhas
ou sombrias cujo grito deixámos de escutar.

Do lixo, porém, temos um vasto
e inútil conhecimento. Possa
ele servir de rosa triste aos
que não cantam sequer, por delicadeza.

Manuel de Freitas, "A Nova Poesia Portuguesa", Poesia Incompleta, 2010.

MEMÓRIA DE ISRAEL ANAHORY

Um velho pássaro com asma, esquálido,
numa aflição, à mesa do café.
Levanta-se, mas não se tem de pé,
cai todo na cadeira, muito pálido:

o bico de marfim boquiaberto,
suor frio na testa côr de cobre,
devoto, o seu perfil de judeu nobre
a orar, por socorro, no deserto.

Só hoje sei que foi sua oração
atendida, e que fui eu o enviado,
naquele instante, à Brasileira do Chiado,
pra lhe estender a mão de Deus na minha mão.

17. VI. 10

António Barahona, "O Som do Sôpro", Poesia Incompleta, 2011.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Albergue nocturno

regressas do mundo
doutro tempo

tudo se conhece

estava à tua espera
aceito o cansaço do calendário
no lugar do morto

tudo se conhece

e aquilo que dizemos
e também as palavras que tiramos do bolso
são nenhum coelho e nenhuma viagem

caia nas profundezas se minto.

João Almeida, "Um milagre no caminho", Averno, 2011.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Aprendiz

O tempo só começou a contar
quando paraste à porta das casas, espreitando.
Nesse instante, a pele morta dos antepassados
foi o tecto onde te abrigaste, uma película
de escamas latejando.

Pouco sabias sobre ti, e nesse momento
toda a aprendizagem terá cessado.

Luís Quintais, "Mais Espesso que a Água", Cotovia, 2008.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Pelos livros andou
com as palavras na boca
como rebuçados da tosse.

Pequenas criaturas assomavam
a cada parágrafo começado, pássaros
esvoaçavam nas margens.

José Carlos Soares, "Mais Ninguém", Língua Morta, 2011.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O teu corpo foi só então
como a vida é apenas
uma vez

Era e não era solúvel
na podridão
do tempo

Que raio de importância
pode isso ter
agora?

Isso, ou seja, o teu corpo
o tempo
a dissolução

Rui Caeiro, "O Quarto Azul e outros poemas", Letra Livre, 2011.

domingo, 2 de outubro de 2011

Vos seja sonegado

Antes eu perigosíssimo por engano
Pois se ignorante e diverso
Não temo qualquer desencanto
Tanto sonho que vos vejo
Nesta ocasião nunca perdida
Em que vou escrevendo aos conhecidos
Por onde o dédalo dos rostos
Os desfez de meu olho sicrano
Num decalque de sombras e canto

António Poppe, "Torre de Juan Abad", Assírio & Alvim, 2000.