quarta-feira, 29 de abril de 2009

talvez mais parte, tardes

a foto não foi roubada a ninguém. a foto é do Tomé Duarte e faz parte do poema.


Está em alvoroço a morte do escriba
de poemas. Estou na posição de partir
freneticamente ao ritmo das pancadas
que sustêm a imitação da morte. Quantas
vezes já foram ameaçados com suicídios
em falso? Amigos que vergastaram a vida
em clamores de atenção. Alguns já declaravam
a procura do corpo, outros “movimentavam-se
em cenas teatrais”, alguns declaravam o seu próprio
óbito. Uma biografia de quem quer um pouco mais de atenção,
o esforço de subir o escadote para vos lamber
o sentimento açucarado. Nunca morrem, nunca fazem
por morrer. Levitam em torno de um desfecho encenado;
fazem levitar quem gosta deles em sentimentos
fervilhantes em tremores frios que desta seja
de vez.
Não é.
A sua fome e sede de atenção param em lágrimas
de crocodilo. Dizem que se matam, que acabam
com tudo porque nunca tiveram quem acabasse
com tudo num salto pronunciado vomitado
para as vossas órbitas numa noite chuvosa.

Desde que te vi a pele empapada no lancil,
a minha caligrafia de respirar é trémula, os passos
nunca serão certos, a música dos astros é agora
terror gritante das fendas onde bebericas
pecado sempre que gesticulas algo
pós-vida.
Podem ouvir em todo o Porto anjos caídos a tentarem
salvar-te a réstia de voz humana
encalhada na flor pulmonar

podem ouvir o teu sussurrar durante a queda se encostarem
um coração batente ao ouvido:

- deixo-vos a flor.
******

pedro s. martins

2 comentários:

  1. Obrigado por ter lido o poema até ao fim.

    Fico muito contente que o tenha feito e gostado do que leu.

    pedro

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