quinta-feira, 28 de maio de 2009

sin_ismo

No dia 29 de Maio, vai ter lugar o lançamento, no Clube Literário do Porto, pelas 22H00, do 1º número da revista sin_ismo - projecto imaginário e heteroutópico.

Esta revista é um projecto da Biblioteca Digital da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e será quadrimestral.Na área da poesia, esta revista tem as colaborações de:Rober Diaz, Suzana Guimarães, Nuno Brito, Minês Castanheira, Ruy Narval, Cecília Ferreira, A. P. Ribeiro, Patrícia Lino, Elsa Loff, António Gajardo, Pedro S. Martins, Tomás Edo Torres, Cézar Romão, Suzamna, Cláudia Consciência, André Consciência e Charles Avery (com tradução de Nuno Brito).

segunda-feira, 25 de maio de 2009

cesto de Lexotan

A Primavera ainda não
se recolheu
e as casas riscadas do verde
ao amarelo
já acolhem
erros de convívio em varandas
onde as curvas da conversa
são para ser
ouvidas pelos transeuntes
que fazem do chão comum
o único catálogo
de Domingo (tarde).

Um espectáculo de estatuto,
frios e altivos, sem sangue
apenas olhares
para o passeio onde quem
não pode
passa.

Passeio sozinho com o resto
da multidão, apenas sei
viver na rua
impulsionadora dos meus
passos
para a solidão
de Domingo (noite).

Tão cedo na vida
e a beleza
já lhes ardeu.
******

pedro s. martins

sexta-feira, 22 de maio de 2009

alumiado

(imagem cedida pelo grupo de expressão plástica Margem D'arte)


A atenção esquecida
de ser dada reflecte a luz
que não entra neste trabalho. Alimenta
o operário supremo de pregos
vivos, plainas frescas,
níveis ferventes.
Sacia a sua
fome de construir o alimento
inflamado para que dentes
purpúreos o mastiguem.

Há datas recônditas
nas quais
o som não ecoa, o poema
não é potente, a fome
não é mais ríspida
com a carne do produto.

Na sua morte (renascimento esplendoroso!),
tubos unidos pela cabeça, estrela
cravejada no coração,
pés
forjados na ode viva à sua
obra terminal.

Quem fica é o saco
que lhe tapa a cara,
o mármore que lhe sela o olhar,
a ferrugem que devora os agrafos
em saliva que lhe cala
o abismo da boca intocável.

Estive no dia em que esfriou,
e na impossibilidade
de construir,
reconstruir,
desconstruir
para reconstruir,

pela nuvem intocável
amarrou um corpo que era apenas um corpo
espartilhado por uma corda
de alta tensão,

e palpou-se

a nuvem esbatida em linhas,
o corpo desamarrado do jazigo
marmóreo
até restarem palmos de ar, línguas
a florirem a habitual supremacia
de um criador.
******

pedro s. martins

quarta-feira, 20 de maio de 2009

papel de ajuda



Órgãos pesados, coração
leve abraçado com uma mão.
Ossos ladrilhados, olhos alinhados
pela cabeça ao centro. Pensamento
resultante da soma de ressacas
e fulgurantes desilusões. Cantatas de pulsantes
coisas aprendidas na abertura do corpo
pelo mundo abismal.

Dançámos numa qualquer teia de rua,
aumento como uma labareda aumenta
ateada por álcool condutor. Cresço
para ti em pedaços de alma
espartilhados pelo corpo
que não vai além do que o osso
permite.

Sou preso involuntário em torácica
menor. Para te acompanhar
precisava de ser gigante sem vedações.
De tanto colidir a massa com o osso,
doem-me as raízes sombrias, dói-me
esta metáfora que manipula
a minha realidade conforme
a chaga me vai chegando ao rosto.

Ando ocupado a pensar em ti. Como
e onde te sentirás óbvia e arrebatada
pela realidade oca que te circunda
como uma teia a abraçar a presa
na sua teia.

Aluada e cansada desta constelação
louca,
pouca
e mouca
que não te deixa avançar a boca,
te prende o sexo e te silencia
o vocabulário central. Fala comigo
e faz-me a ferida repentina que é
o cravar repentino da espontaneidade.

O quotidiano morrerá pela nossa
razão.
******

pedro s. martins

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Caída da vida

(imagem cedida por Maria João Lopes Fernandes – Eco)




Marcha para o palpável
esta ilharga soprada
e crua que me acerba
os elementos.

Vida para trás, a razão
do ritmo abrasa-me o pensamento
exaltante. Faísca o tão poliglota
perfume do lume que alumia
em volta o corpo virado
do avesso, como se o crânio
deixasse o agir filtrado
pela luz do osso.

Vida para trás, miúdo para a frente,
junto ao sistema de atirar
o invólucro da mãe
ao casco granito choro
e adeus brotado conjugado
com o jogo do grito.

Fala à frente da saudade, olhos
em flecha atirada à conjugação
da palavra nunca. A vida move-se,
o viver pára onde o sujeito se divide
em inerências e arranques
atacantes à madeira fechada, ao granito
frio, ao corpo que era quente
de amor.

Há cada vez menos fenómenos de amor
no mundo.
******

pedro s. martins

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Poetas aqui e agora

No próximo dia 17, domingo pelo cair da tarde, 18 horas para sermos mais precisos, haverá poesia e poetas d'Aqui e d'Agora no carismático Breyner85, nessa mesma rua e número.

Poesia (acompanhada ao piano) de: António Pedro Ribeiro, Nuno Brito, Pedro S. Martins, Patrícia Lino, César Romão, Cecília Ferreira, Minês Castanheira, André Consciência, Marco Dias, Afonso Reis Cabral. O que eles escrevem é de cortar a respiração...Leitura de poemas: Cláudia Novais, André Sebastião, António Pinheiro.

Apresentação: Carlos Lopes. Entrada: 2 €.

terça-feira, 12 de maio de 2009

de ninguém

Dói-me a cabeça
de tanto engendrar
saídas airosas
deste pranto que trago
debaixo da língua.

São vagas de dor entremeadas
com o desfolhar
desta ilha fantasma a que outros
chamam coração.

Nascemos à distância de uma morte
e sei que não vou parar
de riscar os pés a perseguir
em desobediência à memória.

No final,
duas estátuas de carne a quem
faltou método para serem
doentes.
******

pedro s. martins

domingo, 10 de maio de 2009

hera transcendente

(Foto de Paulo Nozolino)

Não gosto deste tremor
nas mãos de mãe que avisto
daqui
e se alastra à situação.

Sentidos secos
de corpo a dar ordens
a quem não
quer pertencer ali.

Porto perto de todos,
em que há luz
para a droga
ser apanhada nos bolsos
mendigos de um casal
em contra-fé.

Almas abandonadas em bolsos vazados,
nasce

a noite para a tarde
daqueles. A vaga de perda
para o dono da situação
dizer-se enganado
e mentido.

Não gosta daquela sensação.

Vejo-os daqui. O polícia forra o granito
com motivos
doseados individualmente, o homem
faz companhia à ombreira da porta
e a mulher beija
o cigarro freneticamente
como quem
beija um filho que regressa de um antigo
nascimento ou parte para uma nova morte.

Faltam as imagens,
mas a escrita ganhará
a morte um dia
daqueles.
******

pedro s. martins

quarta-feira, 6 de maio de 2009

chama parada

Regressa
a dançada
ao afecto
do depois.

Bailarina lilás,
ferve-me com hábeis
movimentos de leveza
ascendentes pelo corpo
contrariando a flor

da
mágoa
que te inunda até
aos pés. Para quem (
ainda) não te consegue ver
tão nitidamente como eu:

na rebentação do dom talhado
em setenta e nove, mãe
da ilustração
prestadora de serviço
visual à musa arroxeada, há um incêndio
à tua espera na ferida aferidora
da dificuldade
em escrever
este poema sem tirar
as mãos da cabeça repescada
em chaga agreste.
******

pedro s. martins

domingo, 3 de maio de 2009

rapariga

À roda do teu pescoço
um halo de despedida. Adeus
à prisão onde deixavas de ser
prisioneira.

Que prenda tão súbita este
desertar de pessoas à tua
volta. Quase que não dava por ti,
quase que eras parede em parede
de adeus.

Não falas, não gesticulas, presa
como um barco à barra, apenas
sentes o frio em silêncio
de te ires em lembranças
para não atormentares os outros
pensamentos.

Branco estado que te deita a perder
a vida num saco de adereços. A oração
é mais forte que a fotografia e o rosto
será a incógnita de não envergonhar
a água que te pinta o rosto
em mudança interna.
******

pedro s. martins

escara voltaica – o livro

É mentira,

pedro s. martins

sexta-feira, 1 de maio de 2009

mensagem de morcego

o corpo quer saber
porque a estação é lenta
beleza esguia
húmida com a espera da monção

quando os ciprestes revelarem
a sua nudez deslumbrante, o negror
descerrará sobre os olhos dos
que estão atentos
à unidade
o final deste
poema.
******

pedro s. martins