quinta-feira, 16 de julho de 2009

escancaro

(maynard james keenan)




Aprendi tudo desde a tua
morte. Passei

de pedra a madeira
e de madeira
a vidro. Frágil e superlativo como
o corpo que sou a viver dentro
de uma rodilha de suspiro.

O cancro não se come. Ainda não
há garfo e faca para o bicho. Ainda tentei
sentir as metástases no céu
da boca. Procuro entre mim
o aço,
encontro-lhe o superlativo no amor
à perda.

Odiar-me-ás quando te confessar
que guardo o teu cancro
na têmpora esquerda. Na direita,
a arma que o matará quando
ele acordar outra vez. Rede

entre o cancro e a sua morte,
o meu escandaloso e
tenebroso
cérebro.

Perdi tudo desde a tua, desde a tua,
a tua, sim, a tua
morte. Ouço-me em dificílimos decibéis
de dor guinchados em palpitações
anónimas (não são

nada anónimas pois estão) com o teu
nome esventrado.

Se as minhas pulsações és tu, também
eu morri de cancro
há tempos. Adeus às coisas aí, esta
é,
indubitavelmente, a obra-prima
do brilho que a paixão tem
no escuro.

Brilha que interrompe.
******

pedro s. martins

7 comentários:

  1. Que coisa linda!
    Sempre que eu passei por aqui, eu saí uma pessoa melhor.
    Obrigado por tudo e adeus.
    Não te magoes pela minha atitude repentina, pois eu comento com o a ousadia de quem sinceramente sempre te leu, mesmo sem se manifestar.
    Adeus.

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  2. Um texto forte... e belo.

    Beijo meu

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  3. como sempre, palavras como punhos. difíceis de ler e fascinantes.
    beijo

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  4. Gostei muito do conteúdo de seu blog, você esta de parabéns.Gostaria de saber
    se existe interesse em torcar nossos links, se sim deixe seu recado em meu mural.
    Te espero por lá, ok?
    Felicidade! É inútil buscá-la em qualquer outro lugar que não seja
    no calor das relações humanas... Só um bom amigo pode levar-nos pela mão e nos libertar.
    Abraços forte

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