terça-feira, 19 de abril de 2011

A Mão do Oleiro

«morte:

a mancha negra do corpo, sobre a cama
as mãos que o tempo, anónimo, fixou.
No quintal, os carpinteiros juntam prancha a prancha com o som
enquanto os cães
esperam a fome, cheios de paciência.
Lá dentro, o morto desenha o esquecimento
e a casa fica impenetrável.
Contra a porta, o vento
junta folhas, terra, vespas secas.
O vento e o seu gume.
Os corvos na lixeira retomam a guerra
em curtos voos que a fome desorganiza.»

Rui Nunes, "A Mão do Oleiro", Relógio D'Água, 2011.

2 comentários:

  1. Rui Nunes impressiona-me sempre. Como comentar o poema se apenas posso reflectir sobre ele?
    Um beijo e Boa Páscoa.

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  2. Este livro é uma bomba. A amostra que aqui coloquei é o início de um assalto aos sentidos do leitor.

    Beijo e Boa Páscoa para si e os seus.

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