(imagem emprestada por
Isabel Mendes Ferreira)
Ninguém fuma ao espelho como
Cardoso Pires. Banais como nós vêem
Reflexo e fumo, ele via-se por dentro.
Seccional e denso como o próprio fumo.
Lembro-me de o ouvir falar enquanto o cigarro
Que era, sem saber, metáfora da vida, se ia
Gastando lentamente em direcção ao filtro.
Chegou. Queimou. Passou do branco ao amarelo
E ele ainda deu mais duas puxadas. Duas puxadas
Com escritas que um vivo só consiga reproduzir quando
Já for morto.
Ninguém se vê ao espelho como o Cardoso Pires. Não
Se observa por inteiro. Cai no chão pedaço por pedaço até
Apenas restar o cigarro moribundo no seu reflexo. Quando
Chega a este estado, do alto da conjugação do seu abecedário
Olha para as partes espalhadas na carpete e começa,
Uma por uma, das mais simples às mais complexas,
A reagrupá-las, a renascer para uma nova estória.
Ninguém morre como Cardoso Pires. Deixou de cá estar
A escrever à máquina, deixou tudo o que era Cardoso Pires.
Tudo menos o seu reflexo e o do cigarro incandescente.
De todo o Cardoso que vi espalhado no chão em textos,
Apenas lamento não me ter começado a ver ao espelho mais cedo.
Não ao meu
Mas naquele que ele se via, se desmontava, renascia,
Enfim,
Ao espelho onde Cardoso Pires é tudo.
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pedro s. martins
um Amigo....de tantas horas perdidas....
ResponderEliminaro Zé.
sim...aqui é espelho.
ferino. e belo.
beijoooooooooooooo!
tenho saudades de o ver para além do aniversário da sua morte.
ResponderEliminartenho arrependimento de não o ler para além de quando sinto saudades.