fotos gentilmente cedidas por Pat – from pat with honey
Resquício de cidade
que
se quer eleita às tuas cavalitas. Bairro de
bairros,
com o sol de frente e mochileira
de morros íngremes como os sonhos
dos que amam morar-te. Afurada que fazes de mãe
quem não te odeia por não seres flecha clarividente
de pureza na verve.
Jogas às escondidas com quem passa;
Revelaste
clareira de subtilezas para quem fica. Menina
de pescadores, senhora sempre a chapinar
os alicerces no Douro e a piscar o olho
ao braço de terra que de ti nasce e belisca os
chiques na outra margem, aquela que eles
querem sã e puritana.
Deito-me em ti e sinto-te fria. Mostras-me sem pudor
as encruzilhadas ruas de linhas lidas numa palma
dorida pelo calo de quem cose redes para
levar o pão à boca e brinca o insulto com
os putos que por aí vão gizando o destino
com travessuras de quem não quer o sério
de morrer no mar; De quem não quer o
taciturno morrer cinzento.
Por vezes,
quando me permites, espreito-te dos
joelhos para os pés e vejo cemitérios de
barcos fundidos na crosta do rio. Morridos
gritos, ossadas em madeira dos que já não dão
mais nada para a mesa, dos que afundaram-se a trazer
vida à costa.
Cicatrizes cravadas na carne de quem os teve
que deixar lá, ao abandono humano; à brincadeira
dos cardumes mais afoitos.
Afurada,
de meninices
eternas
e
bailaricos à moda de um ontem estático com
a aprovação
do
São
Pedro.
Bailaricos em que esquecemos os morros que te fazem corcunda,
os berros ecos dos que ficaram “por lá”, os putos
a ouvirem insultos enquanto trepam, rasgam, gritam, pintam, cantam,
dançam, crescem, insultam, namoram, desencontram-se para se encontrar
na procriação
da tradição ao romper seco dos foguetes
com a Arrábida testemunha.
E vives tu,
aí em baixo,
com brincos de alegria fitados
por quem passa e não fica por beber do medo
daquilo a que a tua fama te foi moldando.
E ficas tu,
sozinha com os teus,
entregue ao sol que te alumia a cara e
te faz abraçar com o teu emaranhado
os que de ti cumprimentam a manhã
que agora nasce.
******
pedro s. martins
na superfície da terra ou da água... esperamos sempre mais profundidade, até encontrarmos, por fim, peixes da obscuridade e vermes da decomposição.
ResponderEliminarCa:mila,
ResponderEliminara tua escrita parece chegar dessa profundidade. Longe de estar em decomposição.
Olá Pedro
ResponderEliminarÉ com muito gosto que venho voar sobre os teus poemas.
Gostaria apenas de te dizer que será possivel que não os comente, pois poesia para mim é sentida! Apenas consigo escrever a minha poesia, a dos outros, sinto o que os outros escrevem à minha maneira e na maioria das vezes não consigo reproduzir para palavras...
Seja como for, voarei por cá a cada post novo teu!
Beijos
Borboleta,
ResponderEliminarMuito obrigado pela sua visita, será sempre bem-vinda. Cada um sente e ressente à sua maneira.
Espero apenas que no seu silêncio consiga ser tocada pelo que for lendo aqui.