O norte de tudo é estéril. Não há
portadas e janelas com genes
a espreitar do seu interior. Chegámos
agora de um jardim que tem água
em vez de relva aos seus pés
um lago com cisnes estacados
pelas patas.
Só pode ser ironia, minha querida, digo-te
eu em retorno àquela pergunta:
“o que é que se passa aqui?”
Há musgo atracado à passagem das horas
com o consentimento do silêncio.
Vi nos teus olhos verdes que não querias
estar aqui. Seja. Rumámos a sul.
O sul de tudo é uma chama contígua
à extinção.
Arde o mundo com o mundo a assistir.
E
a pele da carne e a dizerem entre eles:
“esta
televisão aquece muito, ainda vai queimar a
tinta da parede.”
Piscinas com água a ferverem a guisarem quem
se ia salvar
“a tinta vai ficar tisnada”
“vi a avó morrer à minha frente”
“não te queimes a abrir a porta do forno”
“perdemos tudo. tudo. tudo.”
“amanhã vamos ter que levar com esta maldita chuva”
Eu daqui via o céu,
laranja em tons de grito. E de todas
as vozes que me sacudiam os lençóis,
apenas me interessava escutar o rouco
respirar de quem ainda tinha
coragem de ir para norte,
onde as portadas e as janelas não
têm genes a espreitar do seu
interior.
Os genes do sul do mundo ardem com o próprio
nome no cerrar dos dentes.
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pedro s. martins
Muito bem. Apoiado.
ResponderEliminarExtremos são perigosos, pois raramente deixam brotar a flores da diversidade, sendo que elas são tão lindas.
ResponderEliminarFique com Deus, menino Pedro Martins.
Um abraço.