sexta-feira, 27 de março de 2009

chapinadela


(imagem de Ilda David)



Em Cambra, na praia fluvial,
Março com o seu sol
tímido e nós com a praia toda
para nós no limite
da desatenção.

Descalços com o frio da
areia a desconcentrar-nos
da sua macieza. Apetece-nos
entrar pelo rio adentro,
ir ver o que está no seu lado
mais profundo e incógnito.

Chegaríamos longe e, em aflições
de água pelo coração, perceberíamos
a felicidade de ali estar. Nada é como parece
e o pouco que sentimos era
o nosso corpo a deixar
de ser pesado sem nunca termos
deixado para trás
a areia.

Em vez de nos lançarmos à água,
lançamos pedras. Três chapinadelas
e estava ao nível do meu irmão, seis
e igualaria a marca determinada
na minha memória pelo meu
pai.

(- o truque está em apanhar pedras achatadas
e listas)

E estava. Três tentativas, cinco chapinadelas.
Três felizes, nas areias de Cambra. Não venci
o meu pai, talvez por falta de treino,

ou, acredito,

porque havia ali uma lição de respeito
a ser aprendida.

Para o próximo ano haverá mais Março,
as águas, pedrinhas e areias mansas
esperarão pelo regresso a casa do pai,
filho e irmão.

Para o ano, haverá sete beijos da minha
pedra na água. Prometo.
******

pedro s. martins

8 comentários:

  1. Tu realmente tens jeito para a poesia. Muitos parabéns Pedro.

    Esperemos entao pelo proximo ano, e pelos sete beijos.

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  2. Prezado Vieira Calado,
    no Verão a areia não é fria e mansa.

    Querida R.L.,

    esta expressão:

    "(e esta frase soa-me a Rebelos Pintosices)"

    genial :D

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  3. a linguagem é leve. nao doi :)

    abraço

    c.

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  4. Que poema doce e forte.
    "porque havia ali uma lição de respeito
    a ser aprendida."
    Muito belo.

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  5. fica então a promessa de que me a.março sempre aqui

    fantástica a tua poesia, quer queiram, quer queiram

    ;-)

    porque impossível é não querer

    abraço e b.f.s.

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