(foto gentilmente cedida por Tomé Duarte)
Hora a hora, ouvi o meu uivo
durante a viagem toda. Desde o obscuro
à luzidia cidade, ao som acrescentei
o fiar da seda que me cobria
o rosto; ou o resto que não era dom
da imagem.
Foram dias lembrados, em movimento,
inventados pelos minutos que precederam
a hora a hora e agora inventa-os a memória. Não
há quem consiga estar aqui, neste buraco
que escavei com sem utensílios.
A viagem veio ter aqui. Lembro o perfume que este
pardieiro tem: rosmaninho, tu, pêlo, tu e um
suave amargo ao escuro do espelho que é
o tal resto de rosto.
Cada vez pior, cada vez mais torto, a concavidade
do sonho de estar aqui sozinho. Levantado, faltam-me
dois metros para a superfície: outra viagem até as unhas
desabrocharem no mármore. Fria
esta estrela da morte que me enrola
e serve de tecto nesta bolsa tenra
que me serve de estadia.
Tenho o coração no fundo e a cabeça
bêbada.
Continuo a escavar. Três metros
para o frio do mármore,
quatro,
cinco para o quarto que era meu. Olhos abertos no abismo
que é bolha envolvente em mim. Cada vez mais, cada
vez
menos.
Amanso-me com as armadilhas da vida. Sinto-o sopro
do final a chegar. Mais viagem, agora com as unhas,
rasparem até o sabugo sangrar.
Uivo. Raspõe e tira.
Canções múltiplas em mim, a mármore, o mármore,
já está tão lá em cima que lhe podiam desenhar uma lua.
Quarto minguante em mim. Natações de mão em mão,
íngreme, recta de vida a esmorecer
num resumo vertical
como este poema.
Todo eu sou brilho, reflexo do final que avisto
daqui. Serei uno com o centro
da terra., ponto uno com o universo.
Daqui à estrela será tanto como
de mim a ti.
O escuro ficará atrás da vida, talho
a matriz do meu umbigo
à chegada.
A radiação nas entranhas deste mundo
é louca. Explosivo à chegada, rasgo
a bolha com o canivete feito de osso,
e confundo-vos com a morte de dentro
e a morte de fora.
Todos os meus dias são submarinos,
tábuas debaixo da plaina
em direcção à origem. Eu sou
virgens
de uivos aos núcleos
da alma.
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pedro s. martins
:) embriagante, querido pedro. um beijo.
ResponderEliminarvc se supera a cada quadro, guri. nu, quente, cabaleante, pedreiras, rios...
ResponderEliminarai, um mar de mim...
"Se tudo for feito com Amor e ingenuidade;
ResponderEliminarSe todos se amarem mutuamente;
Se a felicidade for uma Eternidade;
Se a tristeza for mera passagem;
Se a amizade for sincera e de Verdade;
Se a vida for um Dar acima de receber;
Então descobriremos que foi em cada uma desses
momentos que nosso coração bateu mais forte,
e que agimos pura e simplesmente como seres Humanos!"
(Vera Costa)
Desejo uma linda semana com muito amor.
Abraços.
parabens mais um poema repleto de pura poesia!
ResponderEliminarobrigado a todos. uma recta em direcção à luz.
ResponderEliminartodos os meu dias são submarinos...............
ResponderEliminarpois...........afundei faz tempo
jocas maradas..sempre
Um dia há-de ser tempo de vires à superfície.
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