(imagem gentilmente cedida por Filipa Júlio - Espiral Medula)
A cidade: todas as ruas e avenidas
na minha cama. Treme a estadia
na paisagem arrancada do chão.,
ficam os sulcos para quem se quiser
afundar na riqueza dos soluços
entre o fogo e a carne.
Todas as pessoas estacadas
pela leveza das próprias membranas,
furos que deixam escoar a translúcida
e ardente paisagem interior:
medo, sangue e amor.
Cidade de sumptuosa ausência,
ficarás cortada de mim pela chaga
que sangrará perpetuamente. Rasgada
de mim como da obra
com uma unhada nobre. Restar-nos-á
o manto
o escudo
o lenço
para amansar as voragens da despedida. Ficará
a cidade
dor de músculo na perna do país
e arderá a obra
fremindo as vogais contra o tronco do
poço da vida.
Como uma força maior, o desaparecimento
de uma estrela
(nunca brilhante; nunca “brotante”)
alimento adormecido e contornado
pelos vivos. Idolatrado pelos inocentes, crianças
da cidade, fechados pulsando
combustível cultural:
vocês aqui.
Eu por ali: fraccionando-me por entre rachas planetárias
e isolando-me com as minhas feridas
dedais. Morrerei pelo fogo engolido
ao contemplar a inocência da erva dobrada
pelo vento,
obra cerebral dos mortos.
******
pedro s. martins
Deitado no chão da cidade como numa cama,
ResponderEliminarArranco a paisagem do chão com o fogo dos meus soluços, com os paralelepípedos cravados na carne.
Tudo é ausência em mim.
Tudo é o cimento, concreto armado, piche, asfalto, e os edifícios que sobem para o alto como se se despenhassem num precipício.
Não nos resta senão um lenço sangrento de despedida.
Um estrela queima os meus olhos de sua gélida distância.
As crianças morrem comigo no descalabro do dia túrgido.
Feliz dia da poesia, Pedro.
Um grande abraço.
muito, muito bom. um beijo no teu dia, poeta!
ResponderEliminarSim, muito bom!
ResponderEliminarRecomeçar é renascer para a vida
ResponderEliminarReconstruir é reparar os danos
Siga em frente sem olhar p'ra trás
Não te censures, pois somos Humanos!
(Pequenina)
Te desejo um domingo com muito amor e carinho
Abraços do amigo Eduardo Poisl
Parabéns Poeta neste dia :)
ResponderEliminar"para amansar as voragens da despedida. Ficará
ResponderEliminara cidade
dor de músculo na perna do país
e arderá a obra
fremindo as vogais contra o tronco do
poço da vida." Isso aqui é de um achdo poético. Belo poema, Pedro.
Que cidade é essa?
ResponderEliminarUma aldeia construída por poetas?
Abraço.
bastaria o título (cidade cravada nas costas) para achar que a fotografia ficou belissimamente acompanhada.
ResponderEliminarBem... que dizer? Estou habituada a expressar-me pela imagem e não pela escrita, portanto, torna-se difícil deixar um comentário à altura do que li.... Conta a intenção? Espero que sim :-)
ResponderEliminaro manto
ResponderEliminaro lenço
o avesso
.
voraz a voz do aceno
e a cidade crava de punhais um peito incauto
______
que dizer???...
belo
A cidade vista como um lugar onde um punhal nos dói. E a paisagem interior se torna "medo, sangue e amor.
ResponderEliminarMuito belo. Um abraço.
"Tocas as flores murchas que alguém te ofereceu
ResponderEliminarquando o rio parou de correr"...
Este poema em estado de cidade acordada no corpo, desperta os poemas alheios.
Este poema é uma cidade a morrer e uma cidade é um corpo, ou pouco mais do que isso, ou pouco menos..
Esses poemas -os teus,em multiplicados de ti- são obra de/para ecos alheios. Há um discurso subterrâneo nos poemas, essa interior voz, densa matéria que reune os mapas das peles estranhas.
O poema vive-se (tu sabes),mesmo em cidades de ausencias... os tempos que se aproximam serão talvez dedicados a inocentes manifestações...
Sai-te do sangue o poema, Escara.
Escreve-o depois. Quando voltar o tempo.
C-asa
Olá Pedro,
ResponderEliminarVim retribuir a visita e deparei-me com uma bela poesia, ainda que rascante e permeada de dor.
Beijos,
InÇes
Que mais lhe posso dizer senão que é um belíssimo poema?
ResponderEliminarPedro,
ResponderEliminardia 21 e todos-os-dias a POESIA mora aqui!
difícil comentá-lo, mas este seu poema, de tão intenso lembrou-me um título: 'a pele da terra', um sítio para onde recentemente mandei umas singelas fotos.. se aquele projecto fosse de palavras este poema ficaria lá perfeito.
deixo um abraço, um braçado de frésias frescas e um sorriso :)
mariam
vim conhecer teu blog de poesias. gostei muito, está acima da média dos muitos blogs poéticos que vemos por aí..agradeço igualmente sua visita ao meu blog..abraços, paz e poesia
ResponderEliminartouché
http://poetasdeguarulhoseoutrosversos.zip.net
A cidade pode nem existir; pode ser um sonho ou um estado de consciência passado.
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