(imagem gentilmente cedida pela Tamara - Urban Jungle)
Não sei se eras tu
ou o berço salgado,
apenas a presença
na língua de um bebé
como início de obra
a dois.
Pedíamos as despedidas e envelhecíamos
mais umas décadas. Arrepender-me-ia
se te negasse a ida ao avançar da idade
conjunta.
O bebé adolescente, o bebé
adulto e nós velhos a ficar até mais tarde
neste mundo que nos fugia debaixo
das rugas.
Podia morrer, ficavas sozinha com o nosso
filho. A feitura do início deste poema
está já em idade de ter um segundo começo.
Será que a minha presença ainda
é necessária?
Não é.
Reconheço que nunca aguentei estas letras de vida por ti.
Por ti, era velho
e frágil. E, no final de tudo isto, com o meu
entendimento rarefeito com a vida, poder-me-ei
suicidar em letras. Bem lá no fundo, sempre
reconheceste o meu desaparecimento
em pensamentos semeados em pedras.
Deixa-me, lentamente,
olhar a noite sem fim
e ir, simplesmente ir
por quem me chama
mais adiante
ao amar-te,
ou ao sentir (ou ao amar-te) o bebé em contraluz na fase adulta,
é a forma menos exagerada
de morrer por ti. Como eu não sou,
também
tu não és daqui: és de mim.
Divirtam-se na minha ausência corpórea.
******
pedro s. martins
lindo
ResponderEliminarO início de obra a dois. O passar do tempo. um amor que não foi(?) "tu não és daqui: és de mim". Muito bom!
ResponderEliminarUm abraço.
mais um poema fantástico assim como todos os outros.
ResponderEliminarparabéns
a contradição perfeita de sentir
ResponderEliminarum quando se quer a dois
belíssimo
.
um beijo