quarta-feira, 22 de abril de 2009

o grouse que me ilumina

(imagem descolada da casa real - casa imaginada)


Não mais a poesia, à boleia
de estantes quebradas e crepúsculos
separadores de letras inacabadas
em gestos de pensamento
que teimam em chegar tarde.

Volto a ter o papel vazio,
insónias de criatividade para suportar
estas mentiras abafadas por “song for
the deaf”. À boleia do que vou lendo,
à boleia do que vou vivendo, o corpo
hesita em aquecer o choro
e fica-se com a sensação de desastrosa
escrita na vertical.

Volto ao papel branco, à memória
cheia, a imagens e a sentidos suburbanos,
sempre que recomeço este gesticular demente,

ganho a certeza que a poesia tem tão pouco
de escrita e tanto na maneira de se estar
pela recolha de letras no subalugado
condomínio com traseiras para a morte.
******

pedro s. martins

10 comentários:

  1. referêcias semi-ocultas a poetas contemporâneos é questão que suscita polémica.

    ResponderEliminar
  2. não me referia a nenhuma poeta. seja ele contemporâneo ou não.

    ResponderEliminar
  3. "Não mais a literatura, os seus
    fúteis e imperiosos desígnios
    - julgados dizer, insistindo
    numa ourivesaria do terror
    e em gestos que sabem o quanto
    chegam tarde. Quando sós,
    à boleia do crepúsculo, dizemos
    coisas assim, mentimos com
    os dentes todos que não temos."

    foi nisto que pensei, do manuel de freitas

    ResponderEliminar
  4. Apesar de gostar bastante do Manuel de Freitas, não foi o caso.

    ResponderEliminar
  5. O papel vazio preenche-se com os gritos que a alma nos devolve... porque a poesia não é um qualquer corpo vazio de sentimentos, ela (poesia) é o próprio corpo das palavras que se oferecem... e que cada um entende com o sentimento que o transcende.

    ResponderEliminar
  6. Há muitas coincidências então, nos primeiros cinco versos. Mas está certo.

    ResponderEliminar
  7. Anónimo,daqui anónima Gato:

    Será puramente casual o encontro de Escara Poeta, com Manuel de Freitas Poeta também.
    Partilham portanto, o ofício, e é tudo e é tanto...

    se numa coincidencia, Escara e Manuel se encontram, celebremos. Encontram-se poetas, não se copiam, não se transgridem nessa voz-rio-caudal-íntimo-de-si-no-mundo.Encontram-se e sentam-se, cada um na pedra do seu poema e podem então falar mais. Mundos aos mundos dos poetas. JUntemo-nos a eles?... porque não?


    Quando se esgotarem todos os "Não mais"..., poderemos então final supor polémica ou vidas semi-ocultas de poetas.

    Não mais escrevo hoje, porque
    arde
    o dedo na fogueira,
    na ferida.
    Incendiários são os desígnios
    das literaturas em corpo vivo.
    Sem narrar,
    posso finalmente,
    dizer tudo.

    ResponderEliminar
  8. A coincidência refere-se a coisas que coincidem, "que tem dimensões e formas iguais".

    Ora na primeira estrofe deste poema e na primeira estrofe do poema do manuel de freitas que referi, há três coisas iguais, ou muito semelhantes. Só constatei isso, achei até que era uma referência "semi-oculta".

    Não sugeri nada, como a senhora falaciosamente faz entender.

    ResponderEliminar
  9. só parecia que sugeria, anónimo.
    só parecia que sim.

    mas, não se trata de carregarmos isto para universos pessoais, daquilo que se quis dizer e do que foi compreendido aquando a leitura: esse é ainda o risco e o desafio. Quando lemos o outro, o que ele nos dá, a leitura é sempre a nossa com os olhos (inteiros) do outro dentro. Já é uma forma de diálogo.

    Uma referencia semi-oculta,como diz, é um bom encontro.
    O que lhe digo, liga-se também ao semi-oculto em vida-poeta: os poemas encontram-se, florescem iguais-diferentes no íntimo do outro. Sem poetas semi-ocultos, no poeta semi-oculto de cada um, o que haveria? pequenas ilhas, pequenos nadas.

    ResponderEliminar