quarta-feira, 20 de maio de 2009

papel de ajuda



Órgãos pesados, coração
leve abraçado com uma mão.
Ossos ladrilhados, olhos alinhados
pela cabeça ao centro. Pensamento
resultante da soma de ressacas
e fulgurantes desilusões. Cantatas de pulsantes
coisas aprendidas na abertura do corpo
pelo mundo abismal.

Dançámos numa qualquer teia de rua,
aumento como uma labareda aumenta
ateada por álcool condutor. Cresço
para ti em pedaços de alma
espartilhados pelo corpo
que não vai além do que o osso
permite.

Sou preso involuntário em torácica
menor. Para te acompanhar
precisava de ser gigante sem vedações.
De tanto colidir a massa com o osso,
doem-me as raízes sombrias, dói-me
esta metáfora que manipula
a minha realidade conforme
a chaga me vai chegando ao rosto.

Ando ocupado a pensar em ti. Como
e onde te sentirás óbvia e arrebatada
pela realidade oca que te circunda
como uma teia a abraçar a presa
na sua teia.

Aluada e cansada desta constelação
louca,
pouca
e mouca
que não te deixa avançar a boca,
te prende o sexo e te silencia
o vocabulário central. Fala comigo
e faz-me a ferida repentina que é
o cravar repentino da espontaneidade.

O quotidiano morrerá pela nossa
razão.
******

pedro s. martins

5 comentários:

  1. Poema sem peias. Sobre as teias. O rebentar das teias. Sem peias que as palavras desbloqueiem as teias. Livres, nus, os corpos-seres, vitoriosos, se defrontem, se encontrem, se celebrem. Não é fácil.

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  2. tão bom Pedro!!!!!!!!!!!!!!!

    tã bom!

    .piano.

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  3. Ando ocupada a não pensar. Encho-me de vazio, lés a lés, incolor. Depois escreverei contigo, nas costas do teu poema, outro loooongggoooo, como mar de galáxia.

    Os teus poemas ainda são incêndios. Escuto neles a voz e o rum-nenhum, que é como quem te diz, vamos beber um copo de lua e naufragar as cicatrizes em ácido. Inquieto-me para me mover... depois conto-te a história.

    Conta-me (conta-nos) histórias: Era uma vez um poema...

    Toujours
    C-Asa

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