terça-feira, 16 de junho de 2009

miro

(José de Quadros)

Não consigo ver
morrer tão friamente.
A tristeza de Domingo à tarde
é o melhor
pretexto para se esperar
pela morte
no Porto.

Vejo-te daqui,
pagas a estadia
junto das pessoas,
no café,
com um refrigerante
que fazes durar no copo
quase uma tarde.

Duas televisões, e tu
a olhar pela montra
a rua. Contas autocarros
como quem conta quantas
raízes ainda tem na vida. A tarde
caminha, tu ficas a contar
para ti:

“Um para a Areosa, um
para o Marquês.”

Sozinho, mal
amanhado dentro de trapos
velhos, velho.
Idade que te sopra
no ritmo diurno de se ver morrer,

lentamente, mergulhando
na convulsa clareira
da montra.

Nesta tarde, todas as tardes
da tua vida. A frota dos STCP é
o teu ábaco, o teu relógio, as tuas
pessoas, a tua vida
com furos, poros, portos,
estadias saltitantes entre a vida, a morte
e os entes que te abandonaram
entre todos.

Felizmente, não te observo
durante o bafo
vertente da morte
diária que serão as noites arrasadas
pelo fechar dos cafés, o abrandar
dos autocarros e,

consequente, a viagem
da tua vida até ao fim,
vírgula.
******

pedro s. martins

2 comentários:

  1. A vida é um incêndio:
    nela dançamos,
    salamandras mágicas
    Que importa restarem cinzas
    se a chama foi bela e alta?
    Em meio aos toros que desabam,
    cantemos a canção das chamas!
    Cantemos a canção da vida,
    na própria luz consumida...

    (Mário Quintana)

    Desejo um lindo resto de semana com muito amor e carinho.
    Abraços Eduardo Poisl

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  2. expressão poética da monótona realidade. serão assim os domingos em qualquer local?
    beijos

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