(K3 sai para as livrarias amanhã, 3 Fevereiro, véspera de um cinquentenário. No dia 4 deste mesmo mês de 1961, há cinquenta anos portanto, estalava a guerra colonial em Angola. Menos de dois anos depois, em Janeiro de 1963, alastrou-se à então dita Guiné Portuguesa, onde estive como mobilizado entre 1968 e 1970, começando logo por ir parar ao K3, aquartelamento de temida fama, então abaixo do nível do solo. É da minha presença nessa guerra que o poema trata, segundo um plano cronológico, ocupando todas as 56 páginas de texto do livro.)
O autor diz: "Deixo um trecho do poema, p. 34 a 36.
(...)
Deve dizer-se aos místicos
e àqueles que acreditam
em destinos supremos
que o chão da humanidade
é um palimpsesto de esperma e sangue
com pegadas em volta
da cama das mulheres em tempo de guerra,
como em redor da esteira
de Djariato,
numa palhota de há mil anos,
uma era tão diversa,
os soldados nos anos do poema,
a desejar-lhe o belo tronco nu,
os seios empinados,
o ventre liso,
a tanga que caísse.
Agora
Djariato regressa
inacessível como antes,
a pele de canela
que enlouquecia
a companhia inteira,
nem um tremor na face altiva
a perturbava.
Quem sabe olhá-la
dê um sentido mínimo ao passado,
à minha juventude assassinada,
de forma a que a lembrança,
em vez de recordar
o bafo de calor,
os ataques ao K3,
as casamatas
enterradas no solo a arder,
guarde a imagem de um corpo esguio,
fantasiando a noite,
mas não a vida dela,
não sei, nunca mais soube nada do seu povo.
(...)"
K3 é um livro de Nuno Dempster e toda a informação está no seu blogue - A Esquerda da Vírgula.
(...)
Deve dizer-se aos místicos
e àqueles que acreditam
em destinos supremos
que o chão da humanidade
é um palimpsesto de esperma e sangue
com pegadas em volta
da cama das mulheres em tempo de guerra,
como em redor da esteira
de Djariato,
numa palhota de há mil anos,
uma era tão diversa,
os soldados nos anos do poema,
a desejar-lhe o belo tronco nu,
os seios empinados,
o ventre liso,
a tanga que caísse.
Agora
Djariato regressa
inacessível como antes,
a pele de canela
que enlouquecia
a companhia inteira,
nem um tremor na face altiva
a perturbava.
Quem sabe olhá-la
dê um sentido mínimo ao passado,
à minha juventude assassinada,
de forma a que a lembrança,
em vez de recordar
o bafo de calor,
os ataques ao K3,
as casamatas
enterradas no solo a arder,
guarde a imagem de um corpo esguio,
fantasiando a noite,
mas não a vida dela,
não sei, nunca mais soube nada do seu povo.
(...)"
K3 é um livro de Nuno Dempster e toda a informação está no seu blogue - A Esquerda da Vírgula.
Obrigado pela transcrição.
ResponderEliminarDe nada. Pelo que já me disseram do livro, é compra certa. E daí o ter colocado em destaque no Escara.
ResponderEliminarAbraço,