segunda-feira, 7 de março de 2011

Pássaro

O céu avermelhado

espelha

uma cor infernal

nas rochas. As aves gritam

o ar, pousam

nas pedras

encarnadas onde a minha

condição humana não me permite

chegar.


Sou pêndulo entre

penedos rasteiros. Saltos

incautos

para espiar o mar

recôndito .


O vento

agita-me das entranhas

às pontas dos

dedos, não permitindo

que a máquina

foque,

colocando-lhe

vultos

na objectiva,


sigo vazio

de fotogramas

por este lodo contínuo

até encontrar

a primeira ave

que se deixa apanhar:


está morta.


Bico a tocar-lhe no dorso, asas

deixadas à vontade

do seu último movimento:

contorcida.


Imagino-a no seu último voo

a pique

e o embater violento,

estalando-a fatalmente;

imagino-a a pousar

suavemente

no aconchego

das três pedras

que a rodeiam

e a ajustar

o corpo

ao seu fim.


Hoje

encarei a morte

de frente. Sei

que é apenas um pássaro.

Mas encarei-a, fiz-lhe

frente e trouxe-a

comigo.


Sei que enfrentarei

assim aqueles que amo:

mortos,


todos.

******

pedro s martins

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