«morte:
a mancha negra do corpo, sobre a cama
as mãos que o tempo, anónimo, fixou.
No quintal, os carpinteiros juntam prancha a prancha com o som
enquanto os cães
esperam a fome, cheios de paciência.
Lá dentro, o morto desenha o esquecimento
e a casa fica impenetrável.
Contra a porta, o vento
junta folhas, terra, vespas secas.
O vento e o seu gume.
Os corvos na lixeira retomam a guerra
em curtos voos que a fome desorganiza.»
Rui Nunes, "A Mão do Oleiro", Relógio D'Água, 2011.