terça-feira, 3 de maio de 2011

Revérbero negro

Às vezes assusta-me este novo riso que tenho. Não que antes
não risse, mas exactamente porque antes ria e este riso não ri.
Apenas revérbero negro do que seria um sorriso se alguma
alegria o tomasse. Só que não há alegria e o riso perpetua-se
negro sob o céu pesado do olhar de outros que se perguntam
e com razão: estará a ficar louco? Por mim nunca me coloquei
a questão (é o olhar deles que me assusta). Nos dias a questão
foi sempre outra: como sobreviver a esta dor sem pausa?
como atravessar este grito sem fim? É para ela que o riso é
solução.

Jorge Roque/Guilherme Faria, "Broto Sofro", Averno, 2008.

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