quando sobre a cidade pesa um grito severo
fiquem a saber que não estão
a viver com a boca no casulo. Há muito que
deixaram o útero primário. Há muito
que consagraram o vosso poisio em
útero secundário sem lhe pedir
autorização por tal intromissão.
quando vos
ferram sons de sirenes, doem-me
as veias por saber que vão passar mal.
alguém vai passar mal, alguém anónimo (espero)
está a passar mal.
imaginem
que habitam dentro do vosso corpo e
têm no coração paços do concelho e nas artérias
seres que se matam mutuamente. tudo num tom
ruidoso truculento que vos irrompe a legitimidade de
apenas estar.
miúdos a jogar à bola no vosso esófago
substituídos
por
partilhas de
tiros nos pulmões.
recreios de escolas trocados por balázios crivados
na parede
do estômago.
vocês a lancharem nos músculos da coxa por
facadas covardes no cerebelo. Tudo combinado
para as dezassete (17) horas de uma quinta-feira qualquer.
tudo trocado em simultâneo.
e não tinham culpa de nada, eram
apenas mapa pacifico a delimitar
uma área violenta.
se fossem palco de tamanho espectáculo, mesmo
que desejassem ser estátuas graníticas,
ainda que vos empedernissem o nome debaixo dos vossos
pés.
até podiam morrer durante tal feira de flagelos
o vosso último suspiro ia soar a
sirene gritante para que
terceiros soubessem que desfaleciam
numa urgência.
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pedro s. martins
Sobre Memória da Memória, de Maria Stepánova
Há 8 horas
Não digo nada que seja novidade: és um Poeta. Foi bom teres(-me) aparecido assim, como prenda de solstício :).
ResponderEliminarQue os bons caminhos se abram para ti.
Um beijo.
Nu e cru como alguns aspectos da fria realidade. A nova marca da poesia, do nosso século. Menos doce mas que se entranha..
ResponderEliminarBeijo
um poema forte, sensível, tocante, moderno. Gostei. Abraço, Adriana
ResponderEliminarguarda-chuvas abertos na garganta.
ResponderEliminarAgradeço-vos os comentários tão generosos.
ResponderEliminarpedro
Olá Pedro
ResponderEliminarAgradeço a visita e vim ler os seus poemas com os quais me identifiquei. Até que ponto a cidade e o ser humano já não serão uma única identidade, na distopia emergente da realidade contemporânea!
Aproveito para lhe desejar um Bom Fim de Ano.
Até breve,
Isabel
Obrigada pelo email!Fez bem em tirar da gaveta!:)
ResponderEliminarforte. o suficiente para nos mexer nas entranhas.
ResponderEliminarreceio que já tenhamos perdido a legitimidade de apenas estar...
"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram,
ResponderEliminarmas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis,
coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".
(Fernando Pessoa)
Venho desejar um Feliz Ano Novo e dizer que no ano de 2009 estarei mais presente no teu Blog.
Beijo
Conceição Bernardino