terça-feira, 30 de dezembro de 2008

homem rúbeo

(obrigado à isabel mendes ferreira por ser fábrica de inspirações)



São os gritos do homem rúbeo

Enlutado à saída da sua lura que me

Fazem cortar as estrelas da esperança

Em quatro partes iguais.


Algum cão homem bomba farejou-as e confundiu-as

Com uma criança indefesa prestes a sucumbir ao medo

Do encontro desafio desequilibrado

Que tinha sido marcado unilateralmente

Com um bocado de arma preta

Encostado à fonte (na testa) que era nascente (de vida) a jorrar.


Fulgurante, o dedo está perto do gatilho

E a fonte a secar

As impressões digitais a sentirem o preto do disparo

E a fonte demasiada indefesa à saída da bala.


Não preciso de ver a bobine para que dez fotogramas em câmara

Lenta

Do gatilho a recolher dentro da arma

Me assaltem o peito.

A nascente de futuro é um fio translúcido ténue apaziguado.


Fecha os olhos rapaz.


Assim,

A culpa que não tens não

Assistirá às despedidas da tua meninice.


Secou.


Eu senti-a a secar. Eu imaginei-a a

Secar.


Implorei-te para fechares os olhos e agora que abri os meus,

Vejo-te aí,

No regaço do teu pai (aqueles fios de desolação têm que ser choro de pai), homem rúbeo. Uma bala

E passaste de potência de (doutor médico arquitecto engenheiro artista

Mecânico padeiro contrabandista criminoso) humanidade a despontar a

Lebre inanimada saida da toca

ao dependuro no cinto


Não de quem te abateu,

Mas de quem te apanhou do chão.

******


pedro s. martins

4 comentários:

  1. As imagens que serviram de suporte ainda eram mais. Em comparação com o mundo em vivemos, estas palavras são algodão doce.

    Beijos

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  2. esse poema tem um ótimo ritmo, é denso e flui.

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  3. o caminho Pedro foi feito a caminhar sobre o fogo. Seu.

    Que vale a pensa ver crescer....assim

    Obrigada.

    beijo.

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