quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

pedras atiradas às pedras da boca

Estou há cento e quarenta e quatro (144) anos a
Tentar arranjar um título para todos vocês. Entrei
Na viagem da imortalidade precoce pela mão de um
Corvo amarelo pousado na janela da minha árvore. Cada
Semana que passava debicava-me um centímetro de carne,
Apenas para me fazer lembrar que ainda não tinha morrido,
Ainda não tínhamos morrido.

Bem junto à copa atirava pedrinhas ao mundo sem nunca
Querer uma poça de mágoa, apenas para ir irritando aqueles que
Pelo meu imaginário passavam. Conheci pessoalmente quatro, ou seja,
Aqueles que olharam para cima. Conhecia-os melhor por fora do que a mim
Por dentro. O conhecimento foi travado em quatro anos díspares. Todos tinham
O mesmo corpo masculino amansado com arestas de senhora
(Idosa) que trabalha o campo como os chulos (não tão idosos) trabalham as prostitutas (de idade indiferenciada).

Perdoem-me as intermitências da memória, mas ainda me consigo
Lembrar que o último vestia uma saia, trazia um xaile pela cabeça e gritava,
Com a sua voz terna como um campo de urzes,
Ser homofóbico. No final da conversa aconselhou-me a atirar as pedras com
Mais convicção.

Atira (berro)
Com (mais berro)
Mais (berro)
Força (mais berro)

Não atirei. No meu mundo não se atiram pedras àqueles que as têm na boca.

Dei-lhe um beijo na testa e chamei-o de sem título número quatro.
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pedro s. martins

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