sábado, 10 de janeiro de 2009

dor de companhia

(Por quem mia o gato quando

é o dono a abandoná-lo?


Por quem ladra o cão quando

é o dono a ferrar-lhe o destino?


Por quem canta o pássaro quando

é o dono a encarcerá-lo num azulejo

pintado em tons de grade?


Depois de responder a estas perguntas,

o dono chora compulsivamente lembrando

que apenas é dono para esconder a perda

da dona.


É a dor de quem lembra a substituição

precoce de chagas que eram saudade

a escorrem em fio do olhar doméstico.

)


ou


Raspemos o chão com a barriga cheia

de despojos pretéritos. Substituamos

saudades de semelhantes desaparecidos

por bugigangas de terceira ou animais de

primeira e choremos em coro quando

a dor da perda

acordar e resgatar

o viver

do preenchimento oco e cru.

******


pedro s. martins

5 comentários:

  1. em ritmo lento
    re leio
    as falésias

    do teu poema



    .
    um beijo

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  2. Cada um lê com o ritmo mais apropriado. Se reparar bem, as falésias são facilmente transponíveis.

    beijo

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  3. Sempre achei que assim fosse, também, só ninca me ocorreu expressar em versos. Via animais de estimação e o exageramento da estimação por animais como misantropia das boas. Ainda vejo, aliás.
    Pois então assim é.
    Disse muito bem você, aqui. e mais outras coisas. Sua poesia é interessante.
    Não estou seguindo seu blog ainda porque ando faltoso de visitas àqueles que já sigo, seria algo do tipo comprar com todos os cartões estourados, ou falta de juízo a eesa altura do campeonato.
    Mas voltar aqui eu ainda vou, isso é que vou, mesmo. Que do blog eu gostei pelo pouco até agora lido e visto. Aliás, está um estrondoso sucesso, hein?
    Visite algum blog meu também, e comente lá qualquer coisa em qualquer post. Isto sempre significa "oi, olha eu aqui" e normalmente eu retribuo logo, pra não cair no esquecimento.

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  4. Fico contente com a sua visita. Sempre que voltar será sempre bem recebido pelos que cá estão.

    Qualquer dia passo pelo seu blogue com a calma que ele necessita.

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