foto de António Amorim, Nov. 2008
O diabo está à porta dos Clérigos. As subidas
à Lello provam-me que ando a pintar um
quadro defunto com o aspergir da vida
pelos dedos fundeados
em hábitos que não
me matam, vão-me
matando.
O Porto não é a cidade das
sete colinas. Porto é cidade
de alpinistas e vês. Não o verbo,
a letra. Quem me disser que dos
Clérigos a Santa Catarina não é um
vê perfeito está a mentir ou lê isto
sem ter mascado este cinzento.
Se morrer numa ida ao Porto, rezo para
que seja no vértice mais baixo da letra, ou
seja, em plenos Aliados. Sempre me pareceu
sítio idílico para trocar de vida, como tantos
trocam de botas. Como tantos troçam
de botas.
Ainda não me tornei lá defunto,
porque não quero ser enterrado num lago com
vista para os passos e as rodas do skate do puto
a martelarem-me a campa.
Se os aliados ainda fossem Aliados, podem
crer que ali jazeria. Já tinha cova marcada e tudo.
Quinto banco vermelho à esquerda, rente ao
senhor que ainda tem uma saca com pão velho
na mão.
Com os pombos
a debicarem-me o pé de fora todas as
manhãs e a menina nua do Moreira a aconchegar-me
o sorriso.
******
pedro s. martins
Linkagem mútua para Quintas de Leitura. cumprimentos,
ResponderEliminarObrigado pela ligação. É sempre bom ver o nosso trabalho a espalhar-se por sítios de qualidade.
ResponderEliminarJá sou visitante assíduo do “Quintas” há algum tempo.
pedro
Muito, muito bonito. Parabéns pela sensibilidade. :)
ResponderEliminarGosto do Porto. Também gostei muito do poema.
ResponderEliminarUm abraço.
excelente. vi o Porto no teu poema.
ResponderEliminarbeijos
Que saudades de ir ao Porto, onde já vivi. Bela homenagem
ResponderEliminarAbraços d´ASSIMETRIA DO PERFEITO
Resta-me agradecer-vos tão gentis comentários.
ResponderEliminarAo ver a estátua da Menina Nua, veio-me à lembrança a Avenida dos Aliados de antigamente. Que linda, ela era...
ResponderEliminarAdorei o poema.
Beijinhos e bfs:)
Era nessa Avenida dos Aliados que eu não me importava de ficar.
ResponderEliminar“Quinto banco vermelho à esquerda, rente ao
senhor que ainda tem uma saca com pão velho
na mão.”
Olá, Pedro Martins
ResponderEliminarObrigado por ter colocado uma foto minha e pela gentileza de referir a origem.
Se eu soubesse que ia ter a honra de ilustrar tão belo poema, se calhar até já tinha feito uma foto mais recente e cuidada.
Parabéns, obrigado e um abraço,
Antonio Amorim