terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Uma promessa ainda é uma premissa


Ilda David

Uma promessa ainda é uma premissa.


Escalo esta verdade ao provar a tua morte em frio. Atordoado,

tua postura ainda é a daquela que passou pela vida

numa gôndola silenciosa de tanto escamotear

a ferrugem dos dias.


Cento e cinquenta anos em vegetal. Quadro dias na boca

do mundo. O resto da vida a pensar no que poderia ter sido

amanhã. Fica o insone atípico de quem assobia para dentro

da vida, não de si. Fica por aí a reluzir nas albas.


“A arte perdida de manter um segredo” é mais do que

o título de uma música dos Queens Of The Stone Age.

Se porventura fosse “A arte perdida de achar uma vida”

serias tu embrulhada nos lençóis caseiros

a ir à janela do não ter nada espreitar a chuva.


Não é.


E o meu prazer em escrever isto é diminuído pelas pulgas

que a cadela da nossa vida me trouxe ao pêlo. Uma promessa

será sempre uma premissa enquanto eu continuar a chorar

um pontapé numa pedra ou o ferrar na própria garganta.


Releio a vida e esqueço a formatação do poema pomar. Relia-te

a ti, mas há muito que deixaste de saber desenhar letras. Entristece-me

não haver editora para te publicar a existência. Haveria de ser uma

primeira edição muito concorrida a um posfácio escrito

à sombra da tua premissa.

******

pedro s. martins

15 comentários:

  1. Pedro: um dom assim é para estar grato. nesse dom está a primeira edição. muito mais belo, pelo menos para o poema.

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  2. Pulgas? Também sei o que isso é. Os meus três gatos trouxeram visitas com eles. :P

    Lindo texto, como sempre.

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  3. muito interesante, chamativo
    porém é inegável a sutileza com que o tema se desenvolve...
    lampejos de analogias...
    muito bom Sr. Pedro!

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  4. "Não importa o que dizem...
    Não importa a figura que de mim desenhem.
    Não importa a perseguição de milícias,
    nem promessas ou premissas.
    No ir e vir do que se afere Verdade,
    diluem-se as veleidades.
    O que fica e ficará será minha vida.
    Essa eu conheço.
    Eu sei de minhas lidas..."

    Um abraço e boa semana

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  5. "Haveria de ser uma primeira edição muito concorrida a um posfácio escrito à sombra da tua premissa."

    Muito bonita esta passagem...

    Hugs

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  6. "Uma promessa será sempre uma premissa enquanto eu continuar a chorar um pontapé numa pedra ou o ferrar na própria garganta."

    muito arranha

    belo post

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  7. eu lia tudos. até o invisível posfacio :)

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  8. um aluvião de palavras. belas. cantantes e ritmadas. que arastam e envolvem. e emocionam.


    poesia. da melhor.

    abraços

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  9. Como sempre tudo muito bonito por aqui.
    Só passei para dar um abraço


    No entardecer,
    o sol dança com a chuva
    e um arco-íris
    no horizonte tinge...
    Espera a lua surgir
    e entre as nuvens
    uma estrela luzir.
    Depois, a terra sorri
    quando na noite escura
    o céu clareia...
    Um véu de estrelas
    abraça a lua cheia...
    O poeta fecha os olhos
    e sente o poema
    correr em suas veias.
    A lua deita no mar
    e o sol, novamente
    beija a areia.

    (Sirlei L. Passolongo)

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  10. Muito interessante a forma com que voce relata a "premi...a",envolvente

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  11. Muito bom este texto meu amigo!
    Passando pra dizer que tem um selinho pro teu blog. Caso queira é só pegar na minha galeria de selos que fica na coluna lateral do meu blog ok?
    Um grande beijo e fique com Deus!

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  12. Obrigado a todos.

    Sem intervalo, o próximo.

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  13. uuufff...que bom que encontrei esse lugar aqui!
    voltarei sempre com vinho na mão...

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