sábado, 28 de março de 2009

casa bipolar

(fotografia gentilmente por Maria P. - Casa de Maio)

Estremece a casa desde o chão
a transbordar vida verdejante
até à chaminé
desafiando o destino a viver em cima
de um fio quente.

As janelas morreram de solidão
e saudade as portas
já não são entradas nem saídas, e a pedra
há muito que se escora na finura da madeira
que imita a pele de algo / alguém que está
preso pelas ancas entre o vivo
e a redução a escombro.

Desta cadeira
observo uma casa bipolar desde a pedra
à aura,
alicerçada
por um tapete de vida esperançosa
em algo
construtivo.

Era eremita até as criaturas perceberem
nela uma linha a descoser-se
entre a luz do dia
e o negro
das trevas.

Vive alma nesta estátua de habitação
pretérita. Mergulha devagar um dos seus
lados sobre quem a soube alicerçar: mãe
terra,

enquanto o outro, o dextro,
se ergue
num elegante sorriso, cumprimentando
quem a vê: ninguém, ou quase.

Ovelhas soletradas pela relva assistem e pastam
enquanto trocam olhares
complacentes com a casa madura que pede
o verde à relva para ter esperança
em albergar,

novamente,


carne madura.
******

pedro s. martins

19 comentários:

  1. Éngraçada esta casa.Talvez pq como eu tb é bipolar e só ela sabe o que encerra em si.

    Obg pelo carinho!

    um bjo

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  2. é bucólico (e ainda vive)

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  3. Entre o céu e a terra, a luz e a sombra, o passado e o presente, a morte e a vida.

    A memória a saudosar-se ao futuro. E o futuro a querer abraçar-se à quase memória da saudade.

    Além e aqui. Mundo diverso.

    Beijinhos.

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  4. Gostei, gostei mesmo muito.
    É reconfortante ver as minhas fotografias ilustradas por outros, partilhadas.

    Beijinho, Pedro.

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  5. a pedra/memória
    o passado/presente
    em palavras/poema

    encantatório


    .
    um beijo

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  6. "Ovelhas soletradas pela relva assistem e pastam
    enquanto trocam olhares
    complacentes com a casa madura que pede
    o verde à relva para ter esperança
    em albergar,

    novamente."
    Não poderia ser melhor esse desfecho.
    Parabéns. Poeta de sucesso.

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  7. Passando para desejar um lindo domingo com um ótimo inicio de semana.
    Abraços do amigo Eduardo Poisl

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  8. hoje-ontem-hoje-amanhã-ontem-hoje-hoje-hoje-ontem-amanhã-hoje

    senti-me dentro dessa casa.

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  9. bipolar é uma palavra muito especial, pedro. e cada vez mais "madura" esta poesia. um beijo e um bom domingo.

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  10. bipolar e lítio são-me palavras muito definitivas.

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  11. brincas com as palavras e cpm elas saem belas poesias.

    bipolar noutro contexto, é muito complicado.

    fica um beij

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  12. "Vive alma nesta estátua de habitação
    pretérita. Mergulha devagar um dos seus
    lados sobre quem a soube alicerçar: mãe
    terra..."



    muito bom....telúrico Pedro.


    beijos.

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  13. Bem, Pedro, adorei este teu poema. Mesmo.

    Beijos meus

    Graça

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  14. insisto na citação da Isabel Méndes Ferreira

    "Vive alma nesta estátua de habitação
    pretérita. Mergulha devagar um dos seus
    lados sobre quem a soube alicerçar: mãe
    terra..."

    ... poema maduro.

    abraço

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  15. A pedra a resistir. A casa teimando em guardar memórias. Excelente poema. Um abraço.

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  16. Um poema com a dualidade a lhe fazer parte. Muito belas imagens e palavras. Bj

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  17. Um poema com a dualidade a lhe fazer parte. Muito belas imagens e palavras. Bj

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