segunda-feira, 9 de março de 2009

como isto

(imagem de Ilda David)

É grande o riso que separa
Philip Glass destas linhas. Soubesse
eu como iria acabar este poema e saberia
como acabaria a música que carrega
de memórias o istmo dos ouvidos
ao pingar dos dedos.

Tenho tanta emoção morrente
de mim. Lêem aqui os restos. A minha vida é
esperar e ser levada pelos imensos possíveis
neutralizáveis em mais uma ressaca negativa. O ano
está carregado de memórias e eu com ele.

O procurar do meu nome em vão. Morrerei pela
descrição do vento nas árvores. Uma dança não planeada
e procurada por poucos.

Aqui era onde eu acabaria o poema. Ficaria limpo
de um atafulhar em palavras e emoções.

Continuo.

Continuo para dizer isto: há beleza por aqui. Não em mim,
na palma da vida que se abre e me deixa ler tudo. Daqui
vejo tudo e todas as loucuras são possíveis porque estou
sozinho com as letras.

Nesta paisagem não existe a rede que sou. Filtros,
nomes, adjectivos,
métricas e semânticas de encher o pensamento
de saliva.
Sentem? Tudo trocado por belezas antigas e o caber nas retinas.
Memórias e epifanias. Sopros agrestes a agitar a árvore
do meu fim, a folha que descreve o meu nascimento
em decalques suaves durante vinte e cinco anos.

A olhar por estes olhos imensos,
qualquer outono florescia. Qualquer arma
se renderia ao brinquedo. As dobras em cuidados
e eu em desdobras para que isto se mantenha.

Só mais uns segundos. Deixai-me ver o rosto que freme
da infância à morte.

Não consegui. Mas vi uma pedra com o meu nome.

Negrume.

Na lápide dizia: o breve nome que tu deixaste. Na minha adiv
a ordem como a vivi.

Desta vez, tombarei com o choupo que me serviu de poisio.
Já está e nunca sai daqui.

******

pedro s. martins

31 comentários:

  1. Busca do imaginavel,maginavel,recordações de linhas livres e soltas!

    bjs

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  2. "A olhar por estes olhos imensos,
    qualquer outono florescia."

    E é verdade.

    um abraço

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  3. A vida é assim, atos que viram memórias, queridas ou não, e quando encontramos o fim, temos de considerar que tudo valeu a pena.

    Fique com Deus, menino Pedro.
    Um abraço.

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  4. é bem verdade, caro pedro. "há beleza por aqui" :) beijinhos.

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  5. Adriana, esta é uma busca de tudo. o aqui e o além.

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  6. alice, fico feliz que encontre essa beleza aqui.

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  7. "Morrerei pela
    descrição do vento nas árvores."


    belíssima forma de morrer!

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  8. muito bom, tanto no conteúdo como na forma. é um prazer enorme ler-te.
    beijos

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  9. hm. há muitas rugas que não deviam estar aqui. são tempos não vi-vidos. não que não deviam ter sido vividos. que não foram vividos. é um vácuo de tempo. rugas de mentira.

    vou procurar o filme ;)
    beijos :)

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  10. obrigada, pedro, pela tua visita ao "putas resolutas", pelas tuas palavras! gostei de conhecer teu blog, voltarei outras vezes
    líria porto

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  11. Terra de poetas, nossa mãe, Portugal!
    Gostei de seu blog, Pedro.
    Grande abraço e obrigada pela visita e comentário.

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  12. Talento. Foi o que aqui encontrei.
    Alguma tristeza me pareceu haver, também...
    Mas faz parte.

    Gostei do pouco que li.
    Obrigada pela tua visita. pelas tuas simples palavras, verdadeiras.

    (só que a tua imagem meteu me um bocadinho de medo:( )...

    Até à próxima

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  13. Izzie,

    a "minha" imagem deste poema é da talentosíssima Ilda David.

    a "minha" imagem do avatar é dos Porcupine Tree, uma banda que, a par com Tool, é das minhas preferidas.

    Obrigado por sentires o talento que há por aqui (se é que há).

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  14. Não gostaste da minha escolha do poema, da imagem, de quê??

    obrigada pela visita

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  15. as velas,

    "Al Berto merecia muito mais. Muito mais."

    Al Berto merece muito mais do que Portugal faz por ele. É um dos meus poetas de eleição.

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  16. Um poema rico de rara beleza! Abraços emocionado

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  17. Imagens e palavras se fundem.

    Obrigada pelo convite e parabéns pelo talento!

    Bjus floridos!

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  18. gosto (imeeeeeeeeeeeeeeenso) da Ilda David
    gosto muito de P Glasss......
    e
    gostei da tua poesia..................

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  19. Fala de vida
    Fala de tempo
    Fala da voz
    que trás o lamento
    da morte em vida.

    Selena

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  20. Muito bom o teu poema
    com Philip Glass,
    palma da vida inversa.

    É isso aí, saludos.

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  21. e______________valeu a pena Pedro. valeu a pena "aparecer" em blog. que afinal é uma montra. onde se pode observar o talento de quem tem algo para ser diferente!

    pela minha parte....vou lendo...lenta e seguramente.

    .

    um abraço forte e sincero.

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  22. Belo texto!!

    Num momento desnudado de inspiração
    Apuro sentidos desconhecidos nas janelas do mundo…
    Abro longas cortinas entreabertas da imaginação
    E sonho despertar, num sono em que não durmo

    Um resto de um bom dia e semana
    Continuando, com a boa inspiração…

    O eterno abraço…

    -MANZAS-

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  23. Talvez naos e afogue.
    Mas se eu morrer afogada esse sentimento morrerá também , comigo!

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  24. Um belo poema com expressões tipicamente lusitanas. Confesso que recorri ao dicionário algumas vezes. Belo poema em forma e conteúdo. Beijo.

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  25. Este poema é no minimo aliciante. Gostei bastante. Parabens :')
    Descobri o teu blog num comentario a um poema de Mario Cesariny de Vasconcelos que ando a tentar perceber. Tenho um trabalho para apresentar sobre ele na sexta. Secalhar podias ajudar-me.
    www.trident-splash.blogspot.com , é o meu blog.Diz alguma coisa :) Beijo

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  26. o poeta faz o poema, o leitor lê aquilo que quer ler. quero eu dizer que, eu li este poema de várias formas e conteudos. achei-o completo e por vezes dúbio. o poeta demonstrou talento e está de patabens!

    beij

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  27. Eu não gosto de comentar assim:
    "Que maravilha"!
    Mas como é que se escreve quando se fica a gostar muito do que se lê?
    Há tanta criatividade e um cunho próprio no que escreves.
    Abraço.

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  28. a arte tem essa forma: a de retirar dela as imagens com que nos identificamos ou nos sugerem.

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  29. e para te dizer tudo no cimo (ou no alto, que agora não me lembro bem...) dos meus vinte e cinco anos, direi que estou em franca ascensão para ti. Escreveu assim o Mário e o Cesariny e depois tu escreveste 25 anos e eu lembrei-vos juntos,e foi bom lembrar-vos assim, , num poema só.

    malas e poemas. al berto ao lado, diz coisas que eu penso que ele gostava também de te dizer. Hoje o vinho está frio e não tem copo para ser servido.

    A terra, essa é quente.

    e eu gosto deste poema.

    a lápide é branca e só tem escrito o nome e é um bom lugar para ficar.
    lá o sol queima e apetece rasgar a pedra, tirar o corpo, dar um passeio no bairro e nos bairros do amor, ressuscitar-lhe a voz...

    Escreve, escreve, Pedro.

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  30. Longínqua “C-ASA”,

    e foi uma tarde a condensar-me os vinte e cinco anos. foi.

    Malas e poemas. surpresa portátil
    da estadia do mundo
    para o
    mundo. Agora,
    paro no
    verso onde estou
    e vou comprar tabaco
    como te imagino.

    Sonâmbulo.

    E vou escrever o sem copo
    vou-te enviar o resultado. Será
    o calor dos dedos
    inchados.

    Não será o que eu queria que fosse:

    um comprimido despoletado em quem o ingere
    a ler.

    Tu.

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