sábado, 7 de março de 2009

mar de tempo

(imagem gentilmente cedida por Rui Sousa - o temporário)

O tempo morde o tempo que os corações
desolados das cidades não têm. Vejo-te
daqui a pousar a chávena no pires; o pires
na mesa e a fazeres do teu encontro
com o desconhecido
uma indústria de bocas;
uma linha de montagens
de gestos.

E os sentimentos acontecem-nos como
um estalo dado por uma folha que se descuida
e cai:

nunca estaremos pronto para os seus
assaltos
mestres em descomposturas.

Fiquei à espera que fossem embora acabar
o embalamento do vosso produto:
o amor.
E fiquei até tarde, bem tarde.
Fiquei até que
a noite mandasse o dia para o sacrifício do anonimato
e não observei mais nada que não fosse
a despedida de mil folhas em direcção
ao meu sentir.

Magoam-me as folhas caducas
enquanto a vocês brotam plantas semeadas
com recolheres de sentimentos planeados
e plantados
pela juventude.

Estão melhores assim. Terei sempre a certeza
que estão a produzir algo pelo amor certo,
enquanto eu varo-me a mim na ânsia de encontrar
o motivo de já não sentir o compromisso no olhar,
apenas o querer ser contigo uma única palavra:
mar.
******

pedro s. martins

7 comentários:

  1. A gente acaba crescendo, abandonando algumas coisas da juventude, mas nem sempre dá para se amarrar um sonho que nunca vai ser realizado (acabamos aliviando parte da carga que a vida nos faz carregar devido as nossas escolhas).

    Fique com Deus, menino Pedro.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  2. Com certeza o mar é uma palavra final!

    lindo!

    ResponderEliminar
  3. Mais do que uma recordação, o tempo torna-nos lúcidos e só assim podemos "encontrar
    o motivo de já não sentir o compromisso no olhar"... Muito belo, o poema. Um abraço.

    ResponderEliminar
  4. Graça, Adriana, JMV, Daniel,

    muito obrigado pela vossa visita e companhia.

    ResponderEliminar
  5. Muito bom
    uma linda semana cheia de paz
    Bjãooooooooooooooo

    sandra

    ResponderEliminar