(imagem gentilmente cedida por guizo - agenda 2008)
Tudo se espalhou num impulso rectilíneo
e sem grandes hesitações. Estradas brancas
“entectadas”
por astros silenciosos que nos deixavam
escolher. Fulgurante, a visão que me agoniza. Despedidas
queimadas por nervos pululantes,
divididas em quatro verdades que se querem absolutas.
Não há facas milagrosas nem corpos freneticamente
suspensos sobre
o destino dos que por aqui estão. O espaço
entre as verdades
começa a ser diminuto e deve ser aqui
recriado pelo desenho das letras.
Cubro a tela com dukka: a natureza da vida. Venha
com ela o sofrimento; venha com ela as mágoas
e as alegrias. Sentimentos bebés irradiando
imperfeições
sobre quem os quer alcançar
e compreender.
A escrever o poema, sinto-me a pintar crentes
em naturezas-vivas à espera que alguém repare
na sua plumagem nelas. O desejo
e sede de viver
e ser vivido.
A mulher a viver mais próximo de mim,
com todas as paixões,
impurezas e o sabor
que elas têm nos doces lábios. Vivem segundo
samudaya e que vivam.
Vivam apenas.
Atirem ao tapete
tudo o resto – o equilíbrio que a dança entre as impurezas
e as paixões proporcionam –
e vivam-me.
Atribuo nomes a estes acontecimentos assaltantes
do ser: o terceiro – nirodha – a cessação de dukka.
Ou seja,
aquela criança recolhendo moedas do rio lacrimal de pobreza
e sorrindo com os pés
no gelo de santa catarina – Nirvana absoluto: a derradeira verdade
limpa e cristalina. Em quem?
Na criança, ou em mim que lhe via
o feliz contrapor com a tristeza a esvoaçar juntamente
com as notas que saem do acordeão de um cego?
Os dias deslocam-se entre sóis e luas. Os dias
deslocam-se
entre visitas à criança.
Sorri para mim sem me ver. Sorri para todos que estão mais quentes
que ela. Limita-se a enregelar,
a pescar moedas e a sorrir.
Eu vi.
Não falo de um sorriso para atrair moedas. Nem de moedas para atrair
sorrisos. É magga – a compreensão do nirvana absoluto.
Resta-me
a minha consciência de estar a ficar louco por ver alguém tão novo
e triste para mim ser tão maduro e alegre para si mesmo.
Dizem-se
que o conhecimento do “óctuplo nobre caminho” não
basta
para se manter assim.
O conhecimento não chega. Ficam-me o resto das ruas da cidade
para entender que é preciso seguir
e manter-se no supramencionado óctuplo
nobre caminho para que a vida subtilmente não me engane.
Não enganarei eu a vida primeiro? Onde eu vejo jejum, a criança sente
a luminosa floração de algo belo sobre chãos onde a chuva vai
morrer sobre chuva já morta.
E diluído por este mundo construído pelo poema, no interior
luminoso que promove quatro verdades
apenas para si, ela toca-me o chão
e escreve por mim o final:
eu não estou absorvido pelo poema,
estou absolvido pelo regenerar da escrita.
Irei agora para onde o resto da vida não mata
verdades, ensina-lhes o que eu ainda
não aprendi.
******
pedro s. martins
por detrás desta arte de bem contar...
ResponderEliminarestá um silêncio coberto de palavras!
abraços, forte!
ainda sobra espaço para eu dizer a quinta verdade:
ResponderEliminareste é um Grande Poema!
beijo.
a verdade que eu sei após ler este poema, é que estamos a ler um POETA.
ResponderEliminarum beij
ouvi o acordeão, pedro. maravilhoso :) beijos!
ResponderEliminar...este vai passar a ser um lugar de passagem e paragem obrigatória. Gosto muito. E sim, acho que a imagem e o poema coabitam muito bem.
ResponderEliminarGui
Gosto dos teus poemas...
ResponderEliminar[obrigada]
muito bom!
ResponderEliminarHoje só estou passando para desejar um feliz dia do blogueiro,
ResponderEliminarcom um final de semana cheio de amor e esperança.
Aproveito para deixar um lindo poema de Mário Quintana
Amar: Fechei os olhos para não te ver e a
minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados
desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada
nasceram sussurros e palavras mudas que te dediquei....
O amor é quando a gente mora um no outro.
(Mário Quintana)
Abraços:Eduardo Poisl
esperemos que este mar de folharia nos leve ao ceu :)
ResponderEliminaralice, relâmpago deste poema.
ResponderEliminarguizo, fico feliz que a foto tenha encontrado um bom porto.
restantes, o meu sincero obrigado.
Pedro: gosto do poema.
ResponderEliminara literatura, às vezes tão dura, noutras tão terna... sej de como for, ela me salvou.
ResponderEliminarnão gostams das verdads eternas. mas de libetar-nos dos grilhões :) belíssimo texto :)
tão familiar. todos.
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