Já sentimos os primeiros
morangos do ano a cobrirem-nos
as línguas mortas. Está quente e chove
dentro,
ouvimos o crepitar do fogo das guerras,
estamos em paz,
dirigimo-nos para mais perto do desassossego
procurámos incessantemente
a primeira fila de um espectáculo
tragicó-poético
parece até que descemos até à fronte das balas,
beija-las antes delas se despedirem
direcção ao pequeno cemitério
mais um passo e queremos
o definitivo lugar no definitivo anoitecer,
descansa finda luz de esperança, paz à tua
vontade
feroz luta empreendida na estupidez
humanamente animal.
Sou marido da solidão e contigo sinto-me
traidor da minha causa maior. Entoas um canto
triste por não
estares a voar sobre a morte, cais na leva de cabeças
erguidas,
acabas o canto e deixas a solidão toda para mim,
e esta é a menos metafórica porcaria que alguma
vez
te escrevi.
Morres agente da tua causa
e sei o sítio exacto onde me vais aparecer
daqui a alguns tempos cinzentos.
Disseste:
“leva o cinzel, estarei feita pedra.”
Discreta erótica a tua formação de morte,
sinfonia mal
pensada ao ser criada, ouvimos os quatrocentos
possíveis
esquecendo o único impossível permanente. Não
faz
mal. não esqueci o cinzel e as mãos para te esculpir
de volta à vida. Meus amigos, assim se publicita a morte,
assim se mantém a fim
no inicio. Olhei mais uma vez o mudo que fui até aqui
apenas para acabar este poema com
uma vírgula precedida da convicção
que isto
nunca será uma metáfora a tua
vida de musa
odiada em saudades.
******
pedro s. martins
poemas, bonecada e canções
Há 1 hora
era uma vez um poema que acabava com uma vírgula. para mais perto do desassossego. onde nascem os primeiros morangos do ano. saboreia-os bem, pedro. sem pontos finais. beijinhos.
ResponderEliminar"Sou marido da solidão e contigo sinto-me
ResponderEliminartraidor da minha causa maior." Precisamente. Bom fim-de-semana!
algo que se me mistura nas mãos
ResponderEliminar(o cerco dos morangos
a-mais-valia da morte?
~
saudade e solidão. tanto de mim.
ResponderEliminarpedro, há dias tento comentar em seu blogue e não consigo. o blogger nunca aceita o comentário. sem contar que muitas vezes abro a sua página e começam a abrir centenas de outros e tenho de reiniciar o pc...
beijo :)
não há línguas mortas que se eternizem perante o desassossego dos teus versos sublimes...
ResponderEliminarum bom Domingo.
um abraço Pedro.
Vai!
ResponderEliminarBoa semana.
bjo
"Já sentimos os primeiros
ResponderEliminarmorangos do ano a cobrirem-nos
as línguas mortas"
O começo de um belo poema.
Um abraço.
nina,
ResponderEliminarnão sei o que se passa por esses lados. Não mudei nada no blogue. Aliás, é o mais simples possível.
pedro