quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

filho

Sena disse aos filhos que o mundo

será deles. Concordo, mas tenho a força da desordem para dilatar

a frase “O mundo também

será dos que me nascerão da carne”. A cada poema que escrevo

as letras dependem

mais de mim. Letras pedintes. As palavras que deixo ao mundo

dos meus filhos

são palavras debochadas tomando-me o jeito dos

dedos. Algumas vezes (a maior parte das vezes.

Todas(?)) cheira-me

o bafo ferrugento das impressões digitais de cada dedo – quem me dera

ser artrópode para ter

artículos em vez – a imprimirem ao

punho de cada letra deixada

por mim

a debicar no beiral do verso com a naturalidade com que o bebé se dilui

a escorrer em baba (rio tépido

que tem

foz no galispo).

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pedro s. martins

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