segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Novidades Edições 50kg


(Brevemente anunciar-se-à, aqui, a data e o local de lançamento bem como onde o poderá adquirir.)

Bill Hicks

A young Bill Hicks.

Um génio da comédia. Morreu novo, mas enquanto por cá andou, foram muitas as gargalhadas e os pensamentos desencadeados.

Obrigado.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

I

A minha língua

agita o metal

perfurante

da tua.


O tumor

metálico tilinta nos dentes

de ambos até aumentar

a humidade fora

das nossas bocas –

gemido

a gemido,


prolongámos a noite

até à lucidez

da manhã.


Levo do poema o teu corpo

salgado e trémulo


e finalmente

entendo

o que Goethe queria

dizer com aquilo do “amor

ser trocista

e hipócrita”.

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pedro s. martins

sábado, 12 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

There Sat Down, Once, a Thing on Henry's Heart.



(John Berryman in Dublin, 1967, reading Dream Song 29. Berryman was interviewed by Al Alvarez for a BBC arts programme and was drunk during filming, as the attentive viewer may notice.)

Até já.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Vício

"Feel Good Hit of the Summer"

Nicotine, valium, vicodin, marijuana, ecstasy and alcohol.
Cocaine.



Pela janela, através da cortina solarenga, vejo-os

diariamente

a pedir alojamento na clínica de reabilitação. Os seus

andares são automatizados como se o exército

de Terracota finalmente ganhasse vida. Enfileirados,

rostos carvoeiros

geralmente iluminados por um cigarro intermitente. Roupas

gastas a condizerem

com a vida que levaram

até ali. Todos

os dias, sem excepção, observo-os

a darem os poucos documentos que lhe restam

para admissão. Entram

pelo portão principal

com a esperança inequívoca

que à saída vão trazer

alguém renascido a disfarçar-se

nos seus velhos corpos sacudidos incansavelmente

pela estadia.


Até aqui coloquei a cabeça do poema

no cepo. Cortei-a com a frieza necessária, os restantes

versos são o trajecto que ela percorreu

a rolar pelo poema

abaixo.


Obcecado para ver o que faziam dentro

daquelas

imponentes paredes

demorei uma semana a vestir a pele de todos

os adictos que consegui: álcool,

químicos, sexo, pornografia,

uma depressão profunda, anorexia, enfim,

apodreci o exterior

e escureci o interior até ser parte

da centopeia delirante

pela cura.


Os viciados têm direito a um kit para a estadia: um lençol,

um edredão, uma fronha,

duas toalhas; itens para se fazer a cama onde a noite

é passada entre uivos a chamarem a vida

passada. Os terapeutas saem às dezassete horas em ponto,

talvez pensando que a noite

não move crises, ataques,

recaídas, mortes (e esta sala cheira a morte). Mariana de olhos

mortiços, vestida de pijama todo o dia, parecendo

ter abdicado da vida há semanas, ameaçou

matar-se se não saísse dali, se não fosse para casa,

se não fosse para o colo

da mãe. Estava na cozinha quando pegou numa faca

reluzente, brilhante no escuro, afiada como a sua ideia

de se matar. Não conseguiu, as veias ferventes

permaneceram intactas.


Na sala de estar não se pode andar de tronco nu, a radiação

do vício permanece encarcerada

entre vestes, num joguete

não muito amigável entre quem sofre

e o sofrimento.

Prostrada e encostada à costura da vida

à espera que languidamente as casas no corpo

fossem abertas, como uma costureira

abre casas para os botões. Sertralina, Morfex,

Seroquel, Victan fazem

Ana não rir

nem chorar, nem querer, nem parir,

nem foder, nem morrer

ou viver. Sobreviver. Estátua de cal branca

numa asfixia evidente.


Há uma solidariedade entre os que estão, nota-se

alguns a servirem de trave-mestra a outros

mais viciados, mais frágeis, ou mais fracos. Tristes

espectáculos sem público, doentes marionetas

com os cordelinhos puxados por um estado

fóssil

de si mesmos.


Falam pouco, falámos quase nada, diálogos

contra vontade e quase contranatura. Conversas

de nove minutos no jardim

ou no alpendre,

para exorcizar o estado que se deita connosco

e acorda,

normalmente,

atiçado. Histórias pungentes que deixaram

o espiritualismo na soleira da porta.


Quando alguém me apresentou José

por Sr. Toxicodependente, nunca lhe imaginei

os vícios no sexo e pornografia. Uma vida

alucinada em chão de esperma, traficada

entre vaginas disponíveis ao sexo

com travo a haxixe ou sexo visto na televisão, sem protagonistas,

guiões ou óscares,

apenas carne


a faiscar contra carne. Horas e horas do mesmo, dias

e dias a ver cenas idênticas, ejaculações

semelhantes sem nunca chegar

aos créditos finais. Escapes (felizmente que o espiritualismo

ficou na soleira da porta) que o mandariam


directamente para o inferno. Enviariam? Será que já

não está lá? Privado do seu corpo

lucífero, quente, sempre

disponível para mais uma, sempre só mais

uma dose de vício em estado latente.


As sombras são cada vez maiores, mais quarenta

e três pessoas que não fazem ou fazem algo em demasia. Gelado

e estreito, ergo-me uma última vez para sair, regressar à minha

janela. Agora não quero ver mais ninguém a entrar, pois

sei o quão difícil é aguentar-me

à saída.

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pedro s. martins

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Avulsos, por causa

Não se esqueçam de comprar Avulsos, por causa (6€) de Renata Correia Botelho.

O livro surgiu primeiro como uma edição da autora (54 exemplares) fora do mercado.

Depois, em Junho de 2005, teve uma segunda edição, como separata no número zero da revista Magma.

Agora, finalmente está no mercado graças à Língua Morta.

Só existem 100 exemplares. Aqui está uma foto do livro (Poesia Incompleta).

Fiquem com um pequeno exemplo do que está à vossa espera:

"11

dormimos ancorados
no princípio do mar, meu amor
um beijo, em algema, cobre
o nosso sono."

A paisagem amanhecida

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

K3 - Nuno Dempster


(K3 sai para as livrarias amanhã, 3 Fevereiro, véspera de um cinquentenário. No dia 4 deste mesmo mês de 1961, há cinquenta anos portanto, estalava a guerra colonial em Angola. Menos de dois anos depois, em Janeiro de 1963, alastrou-se à então dita Guiné Portuguesa, onde estive como mobilizado entre 1968 e 1970, começando logo por ir parar ao K3, aquartelamento de temida fama, então abaixo do nível do solo. É da minha presença nessa guerra que o poema trata, segundo um plano cronológico, ocupando todas as 56 páginas de texto do livro.)


O autor diz: "Deixo um trecho do poema, p. 34 a 36.

(...)
Deve dizer-se aos místicos
e àqueles que acreditam
em destinos supremos

que o chão da humanidade
é um palimpsesto de esperma e sangue
com pegadas em volta
da cama das mulheres em tempo de guerra,

como em redor da esteira
de Djariato,
numa palhota de há mil anos,
uma era tão diversa,

os soldados nos anos do poema,
a desejar-lhe o belo tronco nu,
os seios empinados,
o ventre liso,
a tanga que caísse.

Agora
Djariato regressa
inacessível como antes,
a pele de canela
que enlouquecia
a companhia inteira,
nem um tremor na face altiva
a perturbava.

Quem sabe olhá-la
dê um sentido mínimo ao passado,

à minha juventude assassinada,

de forma a que a lembrança,
em vez de recordar
o bafo de calor,
os ataques ao K3,
as casamatas
enterradas no solo a arder,
guarde a imagem de um corpo esguio,
fantasiando a noite,

mas não a vida dela,
não sei, nunca mais soube nada do seu povo.
(...)"

K3 é um livro de Nuno Dempster e toda a informação está no seu blogue - A Esquerda da Vírgula.