terça-feira, 13 de janeiro de 2009

urdidura humana


alex gozblau

O fundo do mar a arder era

grito de criança descontinuado. Quando a lua

babou luz

guia amor para todos cá em baixo. Sentiste

na pele queimada de saliva astral.


Sou homem pernalta e acho-me imóvel.

Não consigo dar um passo do tamanho de uma

migalha incandescente. Bebi cinza em vez de mineral,

comi bolachas de urtigas com sabor ao amor desta

mansarda de impróprios dançantes.


Agora pode cair o preto das trevas em mim, nós, vós,

cortem (não se esqueçam de cortar) a teia

umbilical que vos une em série. São todos (somos todos) filhos da

mesma mãe criatura de cabeça bobine repleta

de imagens sequenciais anárquicas. Rodopiam o cerebelo da

pobre velha cansada de nós todos (filhos) criando a

ilusão eterna da maternidade sã.


Revoltou-se o silêncio

porque estava só.


Rugiu fabricado leão Fénix dourada pela pele rubra incandescente


(- sou o silêncio de vos todos a cantarem)


e por sorte do acaso mestre não a acordou. Saracoteou as vogais

em torno dos tímpanos despertos polícias de sons agrestes.

Agora calem-se todos com esse mutismo espesso que a senhora vossa mãe continua a dormir

Como na noite em que (mãe) nasceu,

como no dia em que (vocês todos urdidura humana) nasceram.

******


pedro s. martins

6 comentários:

  1. e sim....na senda das palavras que ficam!!!!!




    beijo.



    (piano)

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  2. Confúcio: " O silêncio é um grande amigo, o único que nunca poderá trair - te". Sim, solidão e silêncio andam juntos.
    Um abraço

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  3. difícil poesia, a tua. mas fascinante. beijos

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  4. Vim te ver e ler novamente.
    uma escrita para se ficar pensando, ótimo.
    beijos e bela quarta.
    Cleo

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  5. José,

    ninguém utiliza tão bem os espelhos como o seu amigo António. O maior génio literário que conheço.

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