quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

escara voltaica


(no words - from pat with honey)


Com o meu silêncio deixo-vos uma esperança

presa em fio de arame rúbeo juntamente

com a sórdida humanidade espalhada pelo chão.

Não terei a força de uma presa cega e colada

ao tampo deste poema


Deixo-vos também a condição dos relâmpagos

a escangalharem o breu como um vidro escuro

estilhaçado por rachas brancas. Não há calor

onde estou, nem luz em quem sou.


Resta-me observar ao longe o cair dos dias

sequencialmente na espera de algo que ainda

não deslindei. Com um pé atrás do outro, viajo

para a placenta. Regresso ao mumificar-me

eterno.


Não me preocupa os cordões ou o acordar

para o perder de uma vida que nunca foi minha. Finalmente,

farei jus ao título desta casa e comerei as limalhas caídas

destas linhas eléctricas sem dono ou tempo.


Porquê? – o amor. As vozes que me purificam o estado

das lutas em rosas à procura da seiva pura. Soube

que as letras não eram subterfúgio suficiente

para o assombroso apêndice do saber. Tudo o que sei

está-me na língua. Devorá-la-ei até que o fenómeno

do conhecimento vergue a constelação

que em mim pousou.


Esta leveza de mão desequilibra-me a alma. A fragilidade

dos poemas é cortante na profundidade das palavras. É

o tremor da moda a escalar na vertical e a escangalhar

o fôlego exaltante da poesia.


Há-de haver mais. Quando o prumo da quietude roçar

as faúlhas do uníssono: homem e palavra. Até lá, anda

muito ar queimado pelo padrão óbvio de somar sinónimos

pelos lábios da conjunta boca sôfrega.


Seremos o frescor da língua indestrutível.

******


pedro s. martins

19 comentários:

  1. Encontrei-te entre amigos do Face. Vim ver o teu espaço e deparei-me com esta delícia de poesia.
    Gosto da tua escrita.

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  2. o frescor da língua indestrutível. aqui, na tua poesia tão nova, tão original.
    beijos

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  3. "Não há calor onde estou, nem luz em quem sou." - muito pelo contrário, como prova este teu blogue repleto de sensibilidade.

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  4. gostei do que vi e li
    parabens pelo trabalho
    boa semana
    beijinhos
    Carla

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  5. Afamada liberdade desabrocha pétalas que celebram a vida com delicado afecto!
    :) continuação

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  6. obrigada pela visita ao meu sítio.

    gostei do que li aqui. como que um retorno ao silêncio ainda inocente...

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  7. deixo-vos a condição dos relâmpagos. é o verso entre os versos. é lindo! muitos parabéns! um beijinho.

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  8. Pedro
    Peço desculpa mas é tão raro visitar o correio gmail. Se quiser falar comigo escreva para graca-martins@kanguru.pt
    Claro que tenho todo o gosto em visitar o seu blog e ler os poemas. Por isso ele está linkado no meu blog.
    Beijinhos e bom trabalho
    Graça

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  9. O que te cabe dentro esvoaça o nu daquele que te olha de outras terras. O choque inevitável desce das esferas, para compor restias de luz e misturas solenes. No Alentejo diz-se água-pé.

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  10. "E tudo o que vês não é submerso...
    A imagem que observas é o regresso."

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  11. excelente poema, com estrofes que são uma verdadeira delícia.

    gostei!

    um beij

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  12. "Seremos o frescor da língua indestrutível"

    Tu és!
    Um beijo.

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  13. Desprende-se aqui a vontade daquele eterno retorno!

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  14. ...vale a pena seguir o que dizes de forma tão magestosa.

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  15. *
    se "isto"
    não é poesia,
    a poesia o que é ?
    ,
    saudações,
    ,
    *

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  16. gostei! há sempre alguma fragilidade nas palavras quando saem directas do coração.

    um abraço

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  17. muito obrigado a todos. novo poema com uma foto excelentíssima.

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  18. Sempre haverá mais, mais amor, mas também mais desilusões, em contrapartida semprehaverá alegrias, porém haverá a partida daqueles que amamos...

    Em outras palavras a vida é um ciclo, pois nada nele é duradouro, nem mesmo a tristeza que teimamos em deixar no nossos corações.

    Fique com Deus, menino Pedro.
    Um abraço.

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