terça-feira, 17 de março de 2009

eco

(imagem gentilmente cedida pela Carolina - a casa real)

Não sei se alguma vez escaparemos a este passo
cíclico segundo
eu grito a escrita que tenho em mim e alguém lerá
as grafias segundo riscos deslocados
nos tímpanos das órbitas.

Sou um aldrabarão. Penso e escrevo neste acto
e vocês lêem os ecos a zumbirem-vos
os sentidos. As cinzas da escrita dispersam-se
por aí, juntamente com as intenções e o meu
sentir da ferida a estancar a ignição.

Quando lerem “Não sei se alguma vez
escaparemos a este passo”, estão a ler-me
uma memória. Estarão, os mais atentos, a sentirem-me
um eco.

Não volta a vossa voz a mim. Os vossos dedos não vêm
ter comigo. É a incessante sombra do eco a ferrar
parte da luz do poema. Sopram-me compensações
do que leram pela boca dentro. Coração e mente unidas,
devoradas pelo avançar para o próximo poema.

Os poemas não são para serem lidos. São comprimidos-
-bomba tomados e despoletados cinco minutos depois. Um
clarão deslocado dentro da vossa cabeça. Um clarão espetado
na carne. Um clarão a explicar-vos que a luz que vêem
já cessou a sua existência depois da toma
e da explosão.

Leiam-no agora e sofram da límpida braçada
de pretérito doce. Não se adiantem, continuarei
a furar a condição espácio-temporal
até ao próximo escrito.

******

pedro s. martins

9 comentários:

  1. perfure
    palavras
    depois tudo some
    dilui-se.
    ou não
    escrevo aqui tbm:
    http://perigasver.blogspot.com/

    bjo.

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  2. Excelente este teu poema!!!!
    A imagem ficou optima.
    Parabéns aos dois.

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  3. O intercâmbio cultural entre Brasil e Portugal na poesia é muito satisfatório, agradeço as palavras e retribuo com minha admiração por teus poemas.

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  4. espero a próxima toma enquanto arrumo os estilhaços.



    beijo.

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  5. gozado, né, que talvez isso já esteja obsoleto. era quando vc escreveu. e quando escreveu? e já não é o mesmo agora?

    essa poesia agora é minha. que eu tomo tudo o que quero e amo.

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  6. cláudia, obrigado pelo meu comentário? Se for, acredita que todos foram sentidos. Todos.

    (um endereço de email evitava estas declarações de afecto em público)

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  7. "Os poemas não são para serem lidos. São comprimidos-"

    e não existe bula. um remédio para toda dor em pequenas doses de absintos e absurdos verdes escorrendo dos dedos instintivamente direcionados.

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