terça-feira, 14 de abril de 2009

agasalho e Camel

(imagem do Sr. Basquiat)

Ontem foi um dia
agasalhador. Frio e chuva, neve e gelo
preto substituído por um striptease
que só a alma sabe fazer.

Sem pernas bem torneadas, sorrisos
plásticos ou mamas de fazer corar
aqueles que têm mau gosto,
encantou-me o sopro dos seus
gestos.

A meio do espectáculo, saí
deixando-me onde estava sentado. Meia volta
e olhei para perceber que a cadeira
estava vazia.

Aproveitando o lanço, dirigi-me a ela,
Interrompi-lhe o espectáculo e sentei-me
no seu colo a chorar. Continuei a celebrar o momento,
e entrei-lhe pela boca.

Encontrei-me lá dentro. Ou seja, encontrei-me a mim,
a mim que tinha deixado na cadeira e a mim
que estava fora da alma. Demorei algum tempo
a acostumar-me a este calor e a estas tonalidades
alaranjadas, porém, foi

fácil perceber que todo o espectro cénico decorria
dentro e fora de mim. Era palco e
espectador. Era eu que me despia
e
batia palmas, assobia, uiva: comportamentos
distintos de macho que cresceu à força de (apupo
este fragmento frásico)
influências.

Acabou, recobro de sentimentos, regresso à minha
embalagem de fabrico para sair logo de seguida:

é impossível escrever este poema dentro do meu corpo, tenho
tanta cangalhada entre a alma bailarina e os dedos, que só
daqui consigo chegar às letras.

Talvez logo regresse à minha forma corpórea. Dependerá do frio
que aqui estiver.
******

pedro s. martins

5 comentários:

  1. Hum, o frio quebra tudo, ate a alma. :)

    Lindo texto.

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  2. o senhor basquiat foi o máximo não foi?
    excelente selecção esta para este texto.

    sem frio por enquanto por aqui.

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  3. Peço licença por usar suas palavras, mas apupo todos estes fragmentos frásicos.

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  4. tanta cangalhada entre a alma bailarina e os dedos... o defícil caminho.
    beijos

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