quarta-feira, 1 de abril de 2009

Unicórnios e algodão doce

(foto alegremente roubada a Tomé Duarte)

Para este que aqui morre nem todo
o universo chegaria
para o cobrir

tal é sua
a pequenez de ambos.

A perda não será totalmente
inglória;
ficará a roca, o rosto,
o andarilho e a espinha, despojos

cruciais na construção sólida de um
poema com uma mensagem
subliminar.

Àquele do ilhéu deixo
também uma garrafa vazia
e uma rolha para difundir a mensagem

com mais eficácia. Porém, temo que a mesma
lhe chegue ensopada e ilegível.

E agora que entretive alguém,

vou para casa, na espera pela minha vez.

Com a escrita deste poema fui-me apercebendo
da morte
como um processo lento, tal é o tamanho
de vida que temos
que abocanhar.
******

pedro s. martins

17 comentários:

  1. as tuas palavras são absolutamente "cruciais na construção sólida de um
    poema com uma mensagem
    subliminar"
    :)
    beijo, pedro

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  2. Acredito:
    a garrafa ensopada tornaria claras as letras, mais legiveis.

    Eu acredito que tu também acredites, mas não sei, por isso te digo isto como quem questiona.

    nada se apagaria na viagem, se porventura se abrisse a garrafa ensopada. Matérias e algas, peixes minúsculos de criação desconhecida, misturadas nas letras, pelas letras dentro.
    Era ler mais. Novas passagens no interior da escrita e mais marcas de giz contando dias.

    Quantas ínfimas partículas estão guardadas em cada palavra, em cada percepção, em cada novo encontro-viagem...a morte é um processo lento para abocanhar tantas matérias...

    "Ouve-me que o dia te seja limpo
    e a cada esquina de luz possas recolher alimento
    suficiente para a tua morte"
    al berto

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  3. deixada à deriva a garrafa acabará por aportar ... a boas mãos ... e molhadas ou secas as tuas palavras chegarão ,sempre ,a um destino

    jamais vulgar


    .
    um beijo

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  4. Um epitáfio ou melhor, o mais intrigante e belo epitáfio.Parabéns,Pedro.

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  5. A morte abocanha a vida
    E a vida abocanha a morte.
    Será que uma é mais gulosa
    Do que a outra ou não?

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  6. Lindo
    sublime
    real
    Amei
    Ofereço-te mário de sá carneiro


    Fios de oiro que puxam por mim
    A soerguer-me na poeira-
    Cada um para o seu fim
    Cada um para seu norte...
    ...............................................
    -Ai que saudades que tenho da morte...
    ..............................................
    Quero dormir...ancorar...
    ...............................................

    Arranquem-me esta grandeza!
    -Pra que me sonha a beleza,
    Se a não a posso transmigrar?...


    um bom dia

    umabraço

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  7. "E agora que entretive alguém"...
    ... devo dizer que realmente estive bastante entretida na absorção destas palavas inebriantes e na procura da "mensagem subliminar"...
    Fala-se de morte, de abocanhar a vida....... renascer?

    Um abraço!

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  8. para ladrões assim a porta sempre aberta

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  9. ...a morte é um processo lento, mas presente!


    Bom fim de semana...bjo!

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  10. habitar o não lugar é preciso, como a garrafa que habita o mar- que é tudo e não é nada, não temos a medida exata da sua dimensão.

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  11. e assim nos vamos apercebendo da morte... a única verdade que existe neste espaço de tempo que por aqui andamos, porque é a morte que nos concede tal espaço...
    bom fim de semana
    beijinhos

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  12. e ____________________ entre o tudo e o nada que pode ser tudo ou tanto ou imenso até ...

    os dias percorrem-SE assim _______________ .

    a.b.r.a.ç.o. e sinceros parabéns pela escrita
    sempre soberba.

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  13. a mensagem chega. legível. e soberbamente escrita.
    beijos

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  14. Uma escrita reflexiva mas também sentida. Excelente, na verdade. **

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  15. lá na minha terra dizem que boi véio é que presta. panela velha é que faz comida boa... e por aí vai...

    se viver é um problema. parece que vc tem a solução, lol! rsrsrs...

    gostei demais. como sempre. beijo :)

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  16. Aperceber-se da morte como um processo lento, sabendo como a vida é breve. Um poema lindíssimo.
    Um abraço.

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