(no words - from pat with honey)
Com o meu silêncio deixo-vos uma esperança
presa em fio de arame rúbeo juntamente
com a sórdida humanidade espalhada pelo chão.
Não terei a força de uma presa cega e colada
ao tampo deste poema
Deixo-vos também a condição dos relâmpagos
a escangalharem o breu como um vidro escuro
estilhaçado por rachas brancas. Não há calor
onde estou, nem luz em quem sou.
Resta-me observar ao longe o cair dos dias
sequencialmente na espera de algo que ainda
não deslindei. Com um pé atrás do outro, viajo
para a placenta. Regresso ao mumificar-me
eterno.
Não me preocupa os cordões ou o acordar
para o perder de uma vida que nunca foi minha. Finalmente,
farei jus ao título desta casa e comerei as limalhas caídas
destas linhas eléctricas sem dono ou tempo.
Porquê? – o amor. As vozes que me purificam o estado
das lutas em rosas à procura da seiva pura. Soube
que as letras não eram subterfúgio suficiente
para o assombroso apêndice do saber. Tudo o que sei
está-me na língua. Devorá-la-ei até que o fenómeno
do conhecimento vergue a constelação
que em mim pousou.
Esta leveza de mão desequilibra-me a alma. A fragilidade
dos poemas é cortante na profundidade das palavras. É
o tremor da moda a escalar na vertical e a escangalhar
o fôlego exaltante da poesia.
Há-de haver mais. Quando o prumo da quietude roçar
as faúlhas do uníssono: homem e palavra. Até lá, anda
muito ar queimado pelo padrão óbvio de somar sinónimos
pelos lábios da conjunta boca sôfrega.
Seremos o frescor da língua indestrutível.
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pedro s. martins